terça-feira, 17 de novembro de 2009

Se Isto é um Homem

por Eunice Martins, 11ºIV

Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casas aquecidas,
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos
Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece a paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no Inverno
Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração
Estando em casa andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou então que desmorone a vossa casa

É esta a composição que abre, como pseudo-prefácio, o livro Se isto é um homem, de Primo Levi, antecipando um pouco aquilo que ao longo da obra se subentenderá ser a sua motivação: divulgar por todo o mundo o que foi o horror do holocausto, sendo quem recusa a propagação desta mensagem indirectamente acusado quase de imoralide.
Primo Levi foi um químico judeu italiano nascido em Turim a 1919, tendo sido deportado para Aushcwitz em Dezembro de 1943 e aí ficado até à libertação do Campo pelos soviéticos em Janeiro de 1945. É com base nesta experiência que escreve este livro, um “monumento à dignidade humana” (Sunday Telegraph). Numa prosa pouco emocional (e nisso reside um pouco a sua excepcionalidade face a outros relatos) e metodicamente organizada, Primo Levi descreve, na primeira pessoa e através de vários capítulos, a estrutura do Lager (Campo de Concentração), as suas normas, o tipo de trabalhos, o vestuário, os hábitos alimentares, as relações estabelecidas entre os vários habitantes e as selecções de quem estava apto para continuar e de quem deveria ser fulminado. A forma como Primo Levi escreve, sem queremos entrar em muito detalhe, propicia ao leitor uma visão realista que visa sobretudo levar a reflectir se aquilo que um homem na vida civil é se pode considerar ainda um homem quando vive no Lager ("=armazenamento" em alemão) e se comporta segundo as suas regras. Primo Levi chama a atenção em várias paassagens para o facto de todos os valores sociais e morais que aprendemos desde pequenos sucumbirem perante a brutalidade da vida do haftlinge ("=homem do Lager"): "(...) mas aqui, no Lager, não há criminosos nem loucos: não há criminosos porque não há lei moral à qual desobedecer, não há loucos porque somos determinados, e cada acção nossa é, naquele momento e naquele lugar, sensivelmente a única possível.”.
É um livro que recomendamos a todas as pessoas que se sintam à vontade para encarar a realidade por mais dura que ela tenha sido (que não são assim tantas...), um livro que pedimos, perpetuando a vontade do seu autor, que leiam, que absorvam, e que transmitam. "Precisamente porque o Lager é uma grande máquina para nos reduzir a animais, nós não devemos tornar-nos animais, porque também neste lugar se pode sobreviver, e por isso é preciso querer sobreviver, para testemunhar, para contar(...)". Não defraudemos, pois, o ideal por que Primo Levi sobreviveu.
sensivelmente a única possível.”. É um livro que recomendamos a todas as pessoas que se sintam à vontade para encarar a realidade por mais dura que ela tenha sido (que não são assim tantas...), um livro que pedimos, perpetuando a vontade do seu autor, que leiam, que absorvam, e que transmitam. "Precisamente porque o Lager é uma grande máquina para nos reduzir a animais, nós não devemos tornar-nos animais, porque também neste lugar se pode sobreviver, e por isso é preciso querer sobreviver, para testemunhar, para contar(...)". Não defraudemos, pois, o ideal por que Primo Levi sobreviveu.

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