terça-feira, 17 de novembro de 2009

Nº3

Olá a todos!

Chegámos a mais uma edição do Jornal Moderno. E que edição!
Evoluimos exponencialmente desde a última edição. Evoluímos, sim. Todos nós, não apenas a equipa do JM, mas sobretudo vocês que participaram. E por esse motivo, merecem todos os parabéns!

Deixamos aqui os vossos textos e dos colegas para comentarem. O blog está cá para isso: para se discutir sobre os assuntos, para partilharmos ideias. Além disto, o blog tem agora conteúdos exclusivos, nomeadamente, nos textos: Bora lá fazer a Revolução, Que Civilização?; Kind of Blue; Poema em linha recta, Pedra Filosofal, Fim...

Se ainda não comprarem o jornal, comprem. Está a ser vendido na escola e irá ser vendido também no concerto do colégio. O preço é simbólico, é o necessário para pagar impressão. A edição impressa tem muitos conteúdos que o blog não tem e o blog tem alguns conteúdos que a edição impressa não tem. Em suma, vale a pena comprar o jornal e ler, e depois ver os exclusivos do blog.

Obrigado a todos. E não se esqueçam de comentar!

IRÁ HAVER UMA APRESENTAÇÃO DO  JORNAL MODERNO EM JANEIRO, ABERTA A TODOS, QUE INCLUIRÁ UMA DISCUSSÃO ACERCA DOS TEXTOS E DO PROJECTO.


(Para que saibam, os colegas de economia têm um blog e um fórum com conteúdos magníficos e discussões acesas, no âmbito deste tema tão badalado e tema desta edição: Mudar o Mundo.

São estes os links:
http://mundasti.freeforums.org/
http://www.boralamudaromundo.blogspot.com/)



Capa do Nº3 - comentem!

Editorial: Aqui e Agora

Por Professor António Carlos Cortez
      
   E chegamos ao terceiro número do JORNAL MODERNO (JM). O esforço e a dedicação desta equipa, apoiada pela Direcção, deu frutos: esta edição é, como poderão comprovar, de enorme qualidade, cumprindo a promessa feita de apresentarmos a pais, alunos, professores e demais comunidade educativa, um órgão feito pelos alunos do Colégio Moderno. Como é nosso lema, um jornal "para os alunos, com os alunos e pelos alunos"! É com grande satisfação (e curiosidade) que, julgo, irão ler este vosso jornal.
    Subordinado ao tema da nossa escola —”SIM, PODEMOS MUDAR O MUNDO” [MUDAR]-  vejam o que Márcia Pedroso escreveu a respeito de Carlos (pode ser qualquer um de nós), vítima da sua preguiça e inconsciência, vítima, afinal, do nosso tão comum atavismo que urge, mais do que nunca combater. Os artigos aqui publicados têm grande qualidade e congregam  (numa resposta a Carlos, esse tipo que não queremos ser) a lucidez e a vontade de mudar o mundo que, acreditamos, cada vez mais faz parte de uma ATITUDE MODERNA que nos prezamos de ter. Continuamos com secções dedicadas a artigos de opinião — como os assinados pelos alunos Inês Araújo, Gonçalo Costa e Vasco Horta; artigos sobre a necessidade de alterar as mentalidades para tornarmos o nosso quotidiano um quotidiano melhor. Como escrevem o Gonçalo e o Vasco, trata-se, nestes tempos globais, mas tantas vezes alienantes, de escolher — como Neo, em Matrix — entre os comprimidos da ilusão ou da realidade. Escolhemos a realidade. E a realidade é dura: falamos de mudar o mundo, sentimos que os tempos que correm nos podem cilindrar, sabemos que, frequentemente é mais fácil desistir perante o estado actual das coisas, em vez de resistir.Mas é sobre resistência de que nos fala Maria de Sousa – em entrevista a não perder -, professora e investigadora na área das ciências, num sinal de esperança quanto às gerações mais novas; sinal esse que não podemos ignorar e que constitui uma lição de vida.Nessa entrevista ocupa a Ciência um lugar de destaque, mas é possível descortinar as relações entre os mais recentes progressos científicos e a matriz humanista que nos conduz, ontem como hoje, a um futuro tendencialmente melhor, mas sempre susceptível de protecção e incremento. Na verdade, se pensarmos que civilização queremos para um futuro não muito distante, é sobre essa mesma matriz humanista que escrevem os poetas que, na secção “O Sal da Língua”, vos apresentamos: Álvaro de Campos, António Gedeão e Mário de Sá-Carneiro. É sobre a condição humana que cada um dos textos escolhidos se debruça: em Campos através da feroz crítica à hipocrisia e cobardia que se tem de combater; em Sá-Carneiro pela fotografia de um psiquismo torturado, nascido da sensação de frustração pessoal, hoje tão comum no mundo globalizado e, quanto ao poema de Gedeão, é ainda da condição humana que se trata, porquanto, como diz o poeta, a pedra filosofal está nas mãos de cada um de nós, se não degenerarmos a esperança da criança aberta ao mundo, do jovem idealista e do adulto responsável que habitam em cada um de nós.
    Como poderão verificar, mesmo na nossa secção T2 (Tema 2) [TEMPOS MODERNOS], dedicado ao que é moderno, às mais diversas actualidades, dentro e fora da nossa escola), é ainda, e de algum modo, sobre mudar o mundo de que nos fala Pedro Pinto Lampreia. Um texto absolutamente actual acerca do TGV e do que esse empreendimento significa para Portugal, a curto e médio prazo. Mudar o mundo. Mudar, sem dúvida, e para melhor, o nosso país. O vosso país. E porque é possível mudar se tivermos a coragem de fazer a revolução das mentalidades – pondo de lado a inveja, a maledicência, a passividade castradora e a preguiça -, não queria deixar de chamar a vossa atenção para as páginas finais deste jornal: aí vão encontrar textos de Filipa Barroso e Eunice Martins, sobre Freud e sobre divulgação cultural (de Primo Levi ao jazz de Miles Davis), no que constitui, para todos os efeitos, um evidente sinal de que o JORNAL    MODERNO é, no contexto dos quadros escolares, um jornal diferente. Atento à cultura e aos valores humanistas, disponível para fazer chegar aos leitores da nossa escola o diálogo interdisciplinar, à luz do nosso Projecto Educativo: valorizando a pessoa humana e os princípios da vida em solidariedade. Para que aprendamos, todos juntos, a mudar o mundo. Aqui e agora.

Borá lá fazer a Revolução

Por Márcia Gil Pedroso, 12ºII

Bora lá fazer a a revolução
Dar a volta a isto de uma vez por todas
Não consigo pactuar com este estado de coisas
‘Tá na hora de pegarmos no assunto com as nossas mãos
(Se tivermos que as sujar pois que assim seja, então)
Vamos ver:
Segunda não me dá jeito porque saio sempre tarde
À terça e à quinta tenho terapia não dá para faltar
(são dez contos por hora e faz-me bem chorar)
Às quartas tenho a lerpa com a rapaziada
Sabes que a cartada é sagrada –não me digas nada...
Sexta-feira é dia de apanhar uma bela toca e
Sábado levo o puto ao Happy Meal com um sorriso na boca
Resta o Domingo- só espero não estar muito cansado
Se o Benfica não jogar- tá combinado.

Weasel, in “Amor, Escárnio e Maldizer”, 2007

Esta música transmite-nos uma mensagem bastante irónica, a típica visão portuguesa das coisas, aquela tantas vezes ouvida no nosso dia-a-dia, que política reza assim “Ah, isto está tudo mal... A minha vida é uma desgraça... Mas e então? O que é que eu posso fazer para o mudar? Sou só eu...”. Mas infelizmente o que as pessoas não se apercebem é que antes de pensarmos em grandes revoluções é necessária uma mais pequena, a revolução pessoal.
Concentremo-nos no sujeito da música. Parece ser um homem dentro dos seus 30 anos de idade, vamos chamar-lhe “Carlos”. Carlos começa o seu discurso preparando um motim mas, depois de alguma reflexão, percebe que talvez não dê pois tem o seu horário demasiado apertado: existe o trabalho, a terapia, os sagrados jogos de cartas, a “toca”de sexta-feira, a ida ao Macdonald´s com o puto e talvez o jogo do Benfica . Agora pergunto: estará o Carlos disposto a fazer uma revolução? Estará ele pronto a abdicar dos seus vícios e hábitos para melhorar o mundo? Talvez não.
Agora coloquem-se no lugar dele: imaginem o vosso horário, com aulas, actividades extra-curriculares, compromissos familiares e essas obrigações que vos enchem a agenda . Estarão vocês prontos para abdicar de algumas dessas coisas em prol de uma revolução? Pensem sobre isso...
Antes de realizarmos grandes revoluções colectivas temos de tratar da nossa casa, da nossa família e de quem gostamos para, depois de estarmos em paz connosco, podermos tratar de mudar o Mundo.
Este texto não visa desmotivar ninguém, muito pelo contrário. Espero que depois de o lerem pensem no que é realmente importante para a vossa revolução pessoal. ’ Bora lá?



Nós

Por Inês Araújo, 12ºIV


Toda a gente pensa em mudar o mundo,
mas ninguém pensa em mudar-se a si próprio
Leon Tolstói

Queremos viver melhor, num planeta saudável, onde a igualdade, a fraternidade e a liberdade presidam. Mas, para que isso se concretize é necessário investir, trabalhar, modificar o que já existe. Ora, aí reside o grande problema. Tendo em conta que, actualmente, a generalidade das pessoas julga-se perfeita, “mudança” será uma palavra inaplicável à vivência do ser humano. A falta de respeito uns pelos outros, uma mesquinhez típica e um egoísmo atroz, torna impossível qualquer tipo de modificação. Por exemplo, é muito recorrente julgar e criticar alguém, excessivamente, alguém devido às suas características e personalidade (porque fala demasiado ou não fala com ninguém, porque é convencido ou é ingénuo, porque faz uso da retórica ou apresenta falhas no seu discurso).
Também é frequente a observação escrupulosa feita aos outros, com o objectivo desesperado de encontrar defeitos e fraquezas, para depois se ironizar. Tudo isto sob a capa da discrição, pois há que manter a imagem que damos aos outros… Lá está, é gente perfeita! São frustrações? Invejas? É a malícia? Contudo, a verdade é que ninguém é perfeito, pois todos erramos. E que aborrecimento traz esta revelação – somos todos iguais!
É, então, necessária uma forte alteração das mentalidades: uma tomada de consciência de quem somos, do que é o Mundo e do que existe de errado. Não se poderá viver num universo de ilusões, em que a materialização é rainha; valores como a igualdade, a fraternidade, a amizade, a solidariedade, o altruísmo têm de estar totalmente enraizados em cada um de nós. A indiferença e o cinismo permanentes devem ser repelidos; deve ser adoptada uma postura de vida filantrópica, prestando atenção ao que nos rodeia.
As pessoas fazem o Mundo e havendo uma transformação nelas, o mesmo acontecerá com o planeta. Um sorriso faz a diferença e, por vezes, melhora a vida de alguém. Assim, é preciso mostrar que ninguém está sozinho nesta caminhada que é a vida.
Deste modo, só depois de uma total mutação individual, a realidade que hoje nos é apresentada, será alterada. Estarão estes potenciais indivíduos de amanhã aptos, e com vontade, para uma tal metamorfose? Cabe a cada um meditar para depois decidir…

Sal da Língua - Poesia

Poema em linha recta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico das criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possibilidade do soco;
Eu que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu que verifico que não tenho par nisto neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão - príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana,
Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde há gente no mundo?

Então só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos



Pedra Filosofal


Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarela voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

António Gedeão, Movimento Perpétuo, 1956


Fim

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

Mário de Sá-Carneiro


Faz-me o favor...

Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor -- muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

Mário Cesariny de Vasconcelos








ENTREVISTA: Maria de Sousa - Uma investigadora que mudou o Mundo

A equipa do Jornal Moderno, com a colaboração dos colegas Francisco Rocha e Rodrigo Antunes do 12ºIB, entrevistou a Professora Maria de Sousa, uma investigadora nas áreas da Imunologia e Hematologia e professora a Universidade do Porto, jubilada em Outubro passado. Mais que uma mulher de ciência, uma mulher, uma cidadã do Mundo, que muito contribuiu para a Humanidade com as suas descobertas e como formadora de jovens cientistas. A equipa do JM e o Colégio Moderno estão por demais gratos pela paciência e dedicação da Professora Maria de Sousa em responder a estas perguntas e colaborar neste magnífico processo que é a mudança do Mundo.

A Professora jubilou-se no mês passado, o culminar de uma carreira de excelência e que muito contribuiu para a ciência e para a humanidade. O que significa para si deixar esse legado?

Tive a sorte de fazer muito nova, como bolseira da Fundação Gulbenkian em Londres, uma descoberta muito cedo, da então chamada área dependente do timo, hoje geralmente conhecida como área T. Avanços tecnológicos e observações nos últimos 43 anos não vieram a modificar muito o que eu descrevi. Em Portugal nos últimos 24 anos constituímos um pequeno grupo de investigação com membros excelentes tanto no corpo técnico como clínico e contribuímos um pouco para a compreensão do sistema imunológico numa doença genética de sobrecarga do ferro, a hemocromatose hereditária. Mais recentemente como resultado sobretudo do trabalho de dois alunos de doutoramento e de um investigador já doutorado, um postdoc (com descobertas agora suas) temos vindo a desvendar mecanismos muito básicos do metabolismo celular do ferro. A ciência de que perguntam são duas fatiazinhas de dois grandes mundos: da Imunologia e da Hematologia. O nosso trabalho tem procurado aproximar esses dois mundos. Um legado do conhecimento científico é equivalente às pequenas pedras que fazem os lindíssimos passeios de muitas ruas em cidades portuguesas. O que significa para mim esse legado ? Uma pequena pedra onde outros um dia vão passear com mais segurança. Um passeio a que outros acrescentarão outras pequenas pedras. A investigação científica é uma actividade humana muito boa para educar a humildade, largamente dependente da criatividade, da capacidade de perguntar e de encontrar os instrumentos para responder.

A professora decidiu construir parte da sua carreira no estrangeiro, passando pela Inglaterra, Escócia e Estados Unidos. Mudou-se para o Porto em 1985. Porque fez esta escolha?

Porque segui sempre as oportunidades de fazer investigação.

Pensa que os jovens portugueses deverão considerar a opção de trabalhar noutro país?

Depende das sua escolhas. Se decidirem fazer passeios lindíssimos em cidade portuguesas, por exemplo, o melhor é ficarem por cá. Se quiserem exportar essa beleza muito portuguesa terão que ir trabalhar noutros países…

Quando em 1971 descobriu o fenómeno que denominou ecotaxis, a Professora recorreu às tecnologias então disponíveis. Hoje, a suas teses são confirmadas pelos métodos actuais mais avançados. Em que é que divergem as tecnologias que utilizou na década de 70 e as actuais? Há uma relação indissolúvel entre a tecnologia e o avanço da ciência.

O avanço da Ciência é inseparável do avanço das tecnologias. Não foi no entanto o não ter fantásticos telescópios, que impediu Galileu de fazer observações de grande importância. O caso dos grandes microscopistas como por exemplo Ramón y Cajal é semelhante ao de Galileu . Eu tinha um microscópio que tinha aprendido a usar para ver bem o que estava a estudar durante a minha tese de curso, no Departamento de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina de Lisboa, de que era Director o avô de um dos vossos alunos, o Professor Jorge da Silva Horta e nos anos 60 usávamos radioisótopos para marcar as células que depois eram injectadas nos ratinhos e a sua localização nos tecidos revelada por autoradiografia. Hoje, temos marcadores muito mais finos envolvendo anticorpos contras moléculas específicas nas células T e marcadores imunofluorescentes.

Na ciência não há verdades, apenas hipóteses fundamentadas até serem um dia refutadas. Já teve de lidar com a situação de defender uma teoria perante a comunidade científica e verificar mais tarde estar errada?

Ainda não. Porque a minha primeira verdade foi uma observação “simples”e não propriamente uma hipótese: o que eu estava a ver e descrevi ou estava lá ou não estava, e tecnologias posteriores vieram a confirmar que as células T estavam de facto maioritariamente lá, não tive que defender uma teoria. No caso do sistema imunológico é diferente. Eu de facto postulei que o sistema imunológico tem uma função na surveillance da toxicidade do ferro. E tem acontecido, o que acontece muitas vezes em Ciência: ninguém está particularmente interessado nessa hipótese. Portanto nem sequer tem sido atacada. Com a descoberta dos meus alunos de doutoramento está-se a passar uma coisa muito mais interessante. Está acontecer quase ao mesmo tempo da descoberta por um outro grupo, com 72 horas de diferença. O artigo da Susana Oliveira e do Sérgio de Almeida saiu numa 3ªfeira e o de um grupo italiano liderado por um amigo nosso, Antonello Pietrangelo saiu numa 5ªfeira. Quando se tem a sorte deste tipo de coincidência acontecer, e o mesmo resultado ser visto por grupos diferentes quase ao mesmo tempo começam a aparecer referências à nova descoberta por outros grupos . E se porventura o que se encontrou não vier a ser confirmado, cá estaremos para explicar as diferenças. O progresso de uma observação em Ciência é algumas vezes lento.

Marie Curie um dia afirmou que uma cientista é como uma criança diante de um fenómeno natural que a impressiona como um conto de fadas. Encontra essa beleza na sua investigação?

Sem dúvida. Creio que até tenho um pequeno texto sobre isso, com o título Coisas da Ciência, num livrinho publicado pela Gradiva com o título Hora e Circunstância.

Hoje em dia, questiona-se cada vez mais o uso de espécimes vivos em experiências científicas. Qual é a sua posição em relação a este assunto? Pensa existirem limites para uso de animais, nomeadamente primatas?

Curiosamente, eu acho que sim. Mas não distingo particularmente os primatas. Trabalhei sobretudo com ratinhos, mas também com ratos, peixes e galinhas. Na minha perspectiva todos os animais nos devem merecer igual respeito e em muitos casos o seu uso continuará sempre a ser necessário. O problema que eu vejo do ponto de vista de um cientista preocupado com este aspecto da prática da investigação é o seguinte: um(a) investigadora a trabalhar com modelos animais de doenças humanas, por exemplo, tem que medir muito cuidadosamente em cada experiência quantos animais é que terá de sacrificar para ter resultados significativos, se vai provocar desnecessário sofrimento aos animais, se de facto a experiência poderia dar resultados com o uso exclusivo de células, etc. Penso que a ética animal tem que ser rigorosamente respeitada, pensada e pesada em cada experiência que se faz.

Todos os dias, somos confrontados com problemas ambientais, como o aquecimento global e o buraco na camada de ozono. Destes fenómenos, saltam à vista diversas consequências das quais destacamos o elevado nível de radiação que atinge a superfície da Terra. Uma vez que a radiação é uma das principais causadoras de mutações, é viável pensar que se não resolvermos os problemas ambientais de forma célere, o ser humano, bem como todas as outras espécies, possam sofrer mutações diversas no seu organismo? Poderá a nossa existência estar comprometida?

Pelo que sei a existência humana está mais comprometida pela fome, pela pobreza, pelas guerras e, em Portugal pelos desastres de automóvel e de trabalho, do que por mutações.

Umas das temáticas contemporâneas, de que tanto se fala, é o poder de cada um no processo de mudança do Mundo e do país para melhor. E sendo este o mote desta edição do JM, a seu ver, é possível mudar o mundo através da investigação?

Pode mudar-se o mundo, como tão bem ilustrado pelos movimentos dos direitos civis nos Estados Unidos, pela inspiração de homens como Martin Luther King, Nelson Mandela, Muhamad Yunus. Pode mudar-se o balanço de forças bélicas no mundo pelo uso da bomba atómica, como se demonstrou na II Guerra Mundial, bomba essa que resultou de investigação básica em Física. Mudou-se também o mundo no campo da Medicina, porque se mudou a vida média dos cidadãos do mundo, sobretudo o mundo ocidental com a introdução de vacinas e a descoberta dos antibióticos. Mudou-se o mundo dos diabéticos por se ter descoberto em que órgão se fazia a insulina e se vir a desenvolver a possibilidade de injectar insulina no caso dos diabéticos e a fazer outras terapias de substituição em doenças como a doença de Gaucher. Claro que se pode mudar o mundo: para melhor ou para pior. A investigação, na minha opinião (e experiência), é só mais uma modesta actividade humana que pode por exemplo mudar para melhor os pequenos mundos dos doentes com as doenças que estudamos.

O quadro do pensamento da juventude actual consiste por vezes no descrédito e porventura desprezo por tudo o que se afirme como produto intelectual e reflexivo. Partilha desta ideia? O que propõe para combater este problema?

Eu tenho um conhecimento muito limitado e privilegiado da juventude actual. Tanto os meus alunos como os meus amigos jovens não manifestam esse descrédito porventura desprezo por tudo o que se afirma produto intelectual reflexivo. Pelo contrário. A impressão que colho dos pequenos grupos que conheço é que temos entre os mais jovens portugueses, gente que envergonha muitos dos mais velhos (que também conheço).Tentando, no entanto, partilhar por um momento essa ideia para efeito desta entrevista, creio que cabe aos mais velhos comportarem-se de uma tal forma inspiradora dos valores do pensamento e da criatividade que não desacreditem esses mesmos valores. Onde? Na sociedade em geral. Nas telenovelas (o que não me parece de todo acontecer). Nas salas de aula. Em casa. No trabalho. Pensar criativamente é um atributo único ao ser humano. Creio que hoje em dia, em geral não se discute o suficiente sobre o que significa ser-se humano. O que é que verdadeiramente nos distingue dos outros animais. Amá-los e respeitá-los sim, mas mesmo para fazer isso bem é indispensável perceber bem o que é que verdadeiramente nos distingue.

O nosso jornal tem tentado motivar os alunos a participar nesta iniciativa. Porém, a participação tem sido escassa. Que mensagem deixa aos alunos do colégio, que por medo de se manifestarem ou por falta de auto-confiança, não escrevem para o jornal, quando no fundo anseiam fazê-lo?

Talvez achem que um Jornal é uma forma desadequada de comunicar no princípio do século XXI. Estive numa reunião a semana passada em que um colega israelita contava que tinha dado uma publicação importante para ler a uma colaboradora: em papel. E que ela em vez de ler do papel, fez “scan” e leu e sublinhou tudo no ecrã do computador. Os tempos estão a mudar. O vosso jornal é online? Se é, esta história não se aplica... Eu não tenho grande apetência para transmitir mensagens. Talvez devessem fazer “uma investigação” a procurar saber se os vosso colegas lêem jornais: quaisquer jornais. Se não lêem não querem dizer nada, não por medo, nem falta de confiança, simplesmente porque acham que é uma perda de tempo, se ninguém vai ler. Se lêem, podem ao contrário achar que os temas como este de entrevistar velhas senhoras não é lá grande ideia... Como é que sabem que “anseiam fazê-lo? Têm um estudo com esse resultado, ou é só impressão?

Acredita no poder das novas gerações na continuação do desenvolvimento da ciência?

Acredito. Por muito do que está a acontecer em novos laboratórios de investigação acredito que são os novos que estão a voltar para esses laboratórios que vão assegurar o desenvolvimento da ciência nas áreas que eu conheço, que incluem a biologia molecular e celular como instrumentos.

Há algum conselho que queira deixar aos nossos colegas finalistas que pensam enveredar profissionalmente pela investigação científica, nomeadamente na biologia molecular e celular?

O primeiro conselho é saberem dentro de si próprios se gostam de fazer perguntas e procurar responder a essas perguntas, não ficar só a falar sobre elas. Se dentro de si próprios descobrem que gostam de fazer perguntas têm que aprender técnicas que lhes permitam procurar responder. Mas o começo como o começo de qualquer aprendiz é ir para uma boa oficina. Coisa que podem começar a fazer muito cedo contactando investigadores “directores” das oficinas eles/elas próprio(a)s com perguntas e capacidade de ensinar, como de responder. De uma primeira experiência num bom laboratório, podem logo perceber se era o que queriam.

Que condições têm os jovens cientistas em Portugal?

Se começarem por ter as condições dentro de si próprios, há neste momento um número crescente de iniciativas e financiamentos a apoiar jovens finalistas que queiram vir a fazer investigação e excelentes laboratórios portugueses para onde querem voltar e estão a voltar investigadores portugueses e estrangeiros.
Em suma, talvez que na realidade as coisas não sejam nem tão fáceis, nem tão prometedoras como eu as vejo. Mas só há uma coisa que é certa e de certo modo fácil na vida: morrer. Viver não é fácil. É o maior desafio que se coloca a sermos humanos: viver bem. Connosco próprios. Com os nossos familiares. Com os nossos amigos. Com os ratinhos. Com os peixes. Com as galinhas. Com outros primatas. Mesmo com entrevistadores que nos dão prazos apertados, vindos de um Colégio que tudo indica, tendo longas e antigas raízes, não deixa de ser Moderno.

Martin Luther King terá um dia afirmado o seguinte: “Our scientific power has outrun our spiritual power. We have guided missiles and misguided men.” Será esta afirmação ainda hoje pertinente?

Infelizmente não é só o poder científico. O poder financeiro. O poder militar. O poder em muitos casos só pelo poder. Quando na resposta a uma pergunta anterior eu disse que pelo que sei a existência humana está mais comprometida pela fome, pela pobreza, pelas guerras e, em Portugal pelos desastres de automóvel e de trabalho, do que por mutações, de certo modo eu queria dizer que conseguimos fazer coisas fantásticas com mísseis, com mutagénes dirigida, com extraordinárias técnicas de biologia molecular, mas muita existência humana continua comprometida precisamente por falta do exercício de poderes espirituais que se oponham a tantas e tão tentadoras formas de poder material. Mas para quê ser aluno do Colégio e não querer mudar o mundo? Até eu quero e fui aluna de um liceu que está em ruínas e de que ninguém hoje ouviu falar…

Agora que se jubilou, que projectos tem para futuro?

Procurar viver bem, o que não é nada fácil. E claro, continuar a mudar o mundo... Isto é, ter a certeza que o mundo que deixar quando sair, não de dar aulas, mas de viver, ser diferente e talvez melhor do que o mundo em que entrei. Por ter sido humano sendo. Em inglês: For having been a human being. Como cientista ter contribuído com novos conhecimentos. Por, como mulher ter vivido num século em queão morri nem de tédio nem de tuberculose.Como professora ter encontrado estudantes e colaboradores espectaculares que estão por sua vez a contribuir com novos conhecimentos e novas gentes.

Maria de Sousa, 2 de Novembro de 2009

EXCLUSIVO - Que Civilização?

O facto de teres lido o artigo e vindo ao blog é sinal de que, para ti, mudar o Mundo é possível. E Ainda bem.

O filme que se segue é de maior importância para compreender como vivem os animais que comes. Não achas que é tua obrigação moral estares consciente daquilo que tu próprio provocas?

EARTHLINGS
Um filme fundamental






Para quem estiver interessado numa abordagem mais profunda acerca das consequências da pecuária no ambiente, o documentário Meat the Truth é a resposta.

Podes assitir em: http://video.google.com/videoplay?docid=2756277227675684050#





Que Civilização? (publicado)

Por Gonçalo Costa, 12ºII
Vasco Horta, 12ºII



I - Uma Outra Verdade
Inconveniente

Lembram-se das histórias da aldeia contadas pelos nossos avós? Dos simples gestos e gentes diluindo-se, pelas enxurradas nas terras húmidas, deixando para trás as memórias de outros tempos, os pequenos prazeres, o amor à terra, às pessoas…. Paremos por aqui. Poderíamos prosseguir nesta narração nostálgica, saudosista, de um tempo em que ainda ninguém imaginava os problemas que mais tarde se viriam a revelar, como o aquecimento global, a poluição desmedida, a explosão demográfica, o consumismo histérico, a irresponsabilidade económica, entre outras maleitas igualmente merecedoras de atenção. Mas não o fazemos. Porque o Mundo em que hoje vivemos não é este.

Há alguns anos fez sucesso um filme, de nome Matrix (1999). Numa cena é proposto ao protagonista escolher uma de duas opções: tomar um comprimido que o faria continuar a viver a ilusão ou tomar um outro que o permitiria ver a realidade nua, tal como ela é. É esse o desafio que vos coloco agora. Será preciso coragem para enfrentar esta realidade assustadora. A maior parte de vós ficará verdadeiramente estupefacta com o que passarão a saber. A decisão é vossa. Que comprimido tomam?

Todos os dias, nós ocidentais, nos alimentamos de carne. É, para nós tão habitual e inquestionável comer um bom bife com batatas fritas como respirar. Os nossos pais sempre o fizeram, nós sempre o fizemos. O mais provável é nem pensarmos de onde vêm os bifes que comemos. Comecemos por aí. Com o crescimento populacional que se verificou na segunda metade do século XX, associado ao aumento do poder de compra do ocidente, o consumo de carne deixou de ser um luxo para passar a ser uma prática diária. Os preços das peças de carne há três décadas eram extraordinariamente mais elevados que hoje em dia. Como se explica que tal aconteça? A resposta é simples: com a avassaladora industrialização da pecuária. A grande maioria das vacas e porcos que hoje ingerimos já não são criados no pasto ou em quintas e herdades. As aves que nos chegam ao prato, sejam frangos (nome atribuído às galinhas e galos criados em pecuária intensiva), patos, perus, entre outros, já não vivem em capoeiras. O cenário contemporâneo é muito diferente: todos estes animais passam as suas breves vidas no interior de pavilhões fechados, sem luz natural, em compartimentos de cimento e metal, cujas condições de temperatura, luminosidade, humidade, etc., são reguladas pelos operadores de modo a corresponder as condições ideais para um crescimento acelerado e económico do animal-mercadoria. As vacas são executadas para alimentação ao fim de quatro anos (a esperança média de vida natural é de quinze anos). Os bois não chegam a atingir a idade adulta, pois não têm utilidade na produção láctea, sendo retirados às progenitoras e levados para os matadouros logo nos primeiros meses. Os porcos nunca vêem a luz do dia em todo o seu tempo de vida. É prática comum cortar e arrancar a cauda, as orelhas e dentes com tesouras e alicates, sem qualquer anestesia, com o intuito de evitar práticas canibais, devido ao desespero de uma vida tortuosa. Os animais são colocados em partições individuais ou colectivas de paredes opacas, de um tamanho extremamente reduzido, não permitindo muitas vezes nenhum movimento dos mesmos, durante toda a vida. Dias e noites são passados nestas caixas, que sem ligação ao exterior provocam não uma ideia de ciclo do dia, mas de inferno sem fim. Os leitões (suínos bebés) vivem poucas semanas, enquanto os mais velhos são abatidos aos 6 meses de idade. Poder-se-á afirmar que as aves são os animais da pecuária intensiva, cujas condições de vida são as piores. Em enormes pavilhões selados são criados verdadeiros aglomerados de frangos, amontoados, às largas dezenas de milhar por pavilhão, nascendo e morrendo lá. A higiene do solo é deplorável, tendo em conta a acumulação de excrementos, o que causa infecções nas aves. Estes locais estão constantemente iluminados com o intuito de despoletar nos pintos, o instinto de alimentação através de luz artificial. Durante as 24 horas do dia as aves apenas comem. Ora, este mecanismo visa um rápido aumento de peso para, num espaço de semanas, estarem prontos para o abate. Como consequência da total ausência de repouso e peso excessivo para o nível de crescimento e idade, uma grande parte destas aves quebra os ossos das patas, por não aguentar o peso do corpo! A frustração perante o aprisionamento leva-os a ferirem-se mutuamente, resultando quase sempre em infecções graves e na morte. Tal acontece com todo o tipo de aves: frangos, patos, perus, etc. Uma outra vertente do uso destes animais tem que ver com a produção de ovos. As fêmeas são colocadas em baterias de gaiolas (corredores de estantes de gaiolas), nas quais cada galinha tem menos de uma folha A4 de espaço para se mexer em toda a sua vida! Imaginem o calor dos corpos já colados uns aos outros, o ar abafado e a desolação brutal de uma vida que não o é. Note-se que todas estas práticas acontecem em Portugal, estão estipuladas na constituição portuguesa e seguem as normas da comunidade europeia.

II - Uma Catástrofe Ambiental

Todos se lembram do filme do ano 2006: Uma Verdade Inconveniente, de Al Gore, ex vice-presidente da administração de Bill Clinton e prémio Nobel da Paz (2007). O documentário acerca do estado catastrófico do ambiente no planeta Terra chocou a opinião pública, conduzindo a uma consciencialização ambiental histórica. Com efeito, desde o início do milénio, não só, são frequentes cimeiras internacionais organizadas a este respeito, como também são visíveis as medidas efectivas dos estados, visando a poupança energética, reciclagem, redução das emissões de gases nocivos, entre outros problemas das sociedades industrializadas. Porém, Al Gore não referiu um outro factor gritante em todo o processo de poluição: a pecuária intensiva.

Porventura, não pretenderia o ex vice-presidente dos E.U.A. responsabilizar o auditório, de forma demasiado directa e ofensiva, sobre problemas ambientais. Efectivamente, exigir ao Mundo ocidental e consumista que deixasse de comer a tão cobiçada carne teria o efeito contrário: a negação da realidade exposta em todas as suas vertentes. Não só a opinião pública recusaria prescindir da sua dieta animal, como rejeitaria todas as outras necessidades urgentes de poupança, contenção e consciência ambiental, que, até ver, se inscreveram na cultura dos 11% da população do Mundo que não vive na extrema pobreza.

É certo que a questão da pecuária escapou a Al Gore, mas não à comunidade científica e à Organização das Nações Unidas. A 29 de Novembro de 2006 a FAO, Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, anuncia que a criação de gado produz mais gases de efeito de estufa que todo o sector dos transportes planetário, impondo-se como uma das três causas mais significativas de aquecimento global. Citando o portal das Nações Unidas: Cattle-rearing generates more global warming greenhouse gases, as measured in CO2 equivalent, than transportation. (…) Livestock are one of the most significant contributors to today’s most serious environmental problems. (A criação de gado gera mais gases de efeito de estufa, medido como equivalente de CO2, que os transportes (…) O gado é uma das contribuições mais significativas para os mais sérios problemas ambientais de hoje) Este fenómeno deve-se fundamentalmente às elevadas quantidades de Metano (CH4) libertado pelo sistema digestivo dos ruminantes. Além de uma molécula de Metano provocar 23 vezes mais aquecimento do planeta que o CO2, estes animais geram também 64% de todo o amónio do planeta, responsável pela chuva ácida. Há ainda mais um factor: a produção de carne é directamente responsável pela poluição dos solos e da água. (link para fonte no blog)

Outro problema que se impõe é a alimentação de todos estes animais. Por não se alimentarem nos pastos naturais, comem ração e, uma vez que se pretende o seu crescimento rápido de modo a maximizar a produção, os indivíduos ingerem quantidades exageradas de comida. Veja-se o caso das aves que passam as suas semanas de vida a consumir ração, dia e noite, e de todos os outros animais que possuem dietas semelhantes.
Ora, o âmago da alimentação destes animais é a soja, vegetal proveniente em grande parte do Brasil, mais especificamente da floresta da Amazónia.

Na verdade, o pulmão do planeta tem sofrido uma destruição exponencial nos últimos anos, apenas para estender as plantações intensivas de soja para os animais (não só esterilizam o solo, contaminam a água e poluem a atmosfera com pesticidas, como ainda impossibilitam o cultivo de outras plantas, devido à monocultura). Note-se que, mais de 95% da soja e mais de metade de todos os vegetais produzidos no Mundo vai para os animais da pecuária intensiva.
Atente-se que, 70% da floresta amazónica original é ocupada por pastos e campos de cultivo de soja. Segundo a conceituada revista Nature, se as práticas agrícolas na amazónia assim continuarem, em 2050 ter-se-á perdido 40% da floresta que existe hoje. No fundo estamos a destruir a mais importante floresta do Mundo para fornecer carne aos países desenvolvidos. Estamos a sacrificar o planeta para satisfazer os desejos supérfluos de uma minoria. Os factos são surpreendentes: uma dieta com menos carne, substituindo por vegetais ricos em proteína equivalentes, é responsável pelo consumo de menos vegetais que uma dieta com carne e implica o cultivo de 10 vezes mais solo.

Não é, de forma alguma, sustentável para o planeta continuar com esta irresponsabilidade dos países “desenvolvidos”. Não custa nada prescindir da carne por uns dias. Custa, sim, ao planeta, se não o fizermos.

III - Soluções sustentáveis

É provável que estejam a dizer assim: “eles querem-nos tornar vegetarianos! Nem pensar, eu gosto de carne!” Pois bem, podem continuar a comê-la, mas de uma forma sustentável. Como? Consumindo carne biológica e ovos do campo. A carne biológica é de alta qualidade e proveniente de animais criados com uma alimentação biológica em condições propícias ao seu bem-estar. O gado biológico é criado de forma saudável, de preferência ao ar livre, em pastagens e alojamentos adequados. Normalmente estes animais não sofrem mutilação das caudas, bicos ou cornos (definição da UE). Como podem verificar, esta é uma alternativa propícia ao bem-estar de todos e é vossa obrigação fazer esta escolha. É também importante referir que o conceito da pecuária biológica só é possível se consumirmos muito menos alimentos de origem animal do que o que sempre consumimos, pois se assim não for, não será possível servir necessidades tão elevadas de carne através de uma produção sustentável e não industrializada. Quanto aos ovos, encontrarão em qualquer supermercado ovos de galinhas criadas em liberdade ou ovos do campo, não contribuindo para a tortura das galinha de bateria. Em suma, impõem-se dois objectivos para todos nós: 1- Consumir produtos biológicos/do campo. 2- Consumir carne poucas vezes por semana. Falem com os vossos pais acerca do assunto, peçam-lhes para ler este artigo e mudem os hábitos lá em casa. Nós sabemos que vocês são capazes!

IV - Mudar o Mundo

Perante todos os factos que aqui expusemos, muitos de vós retorquirão que é por de mais natural o sofrimento, que um porco não passa de um porco, que por ser irracional nada sente ao ser esventrado. Perguntamo-vos: será natural a vida de milhares de milhões de seres criados e aprisionados desde o seu nascimento, torturados pelas condições mórbidas a que são sujeitos? Será isto a natureza? Será pensável que o seja? Será aceitável que tal aconteça num país, dito, desenvolvido.

Somos a única espécie racional neste planeta. Não há qualquer equivalente animal na Terra que caminhe tão velozmente e com tanta eficiência para a degradação total do seu habitat e do habitat das outras espécies. Temos de assumir responsabilidades para com as espécies irracionais que coabitam connosco neste mundo, essenciais para o equilíbrio no nosso ecossistema global e para nós próprios. Apelamos pois a uma tomada de consciência cívica da vossa parte, pois acreditamos ser possível, cada um de nós achar as respostas aos grandes problemas deste século XXI. Não reneguem a vossa condição humana, que é também a de seres sensíveis e aprendam a compaixão, pelos animais e pelos vossos filhos que, se não mudarmos radicalmente, não terão um planeta para viver. Planeta que é nosso solo. Onde nascemos, onde semearemos e aonde voltaremos. Sim, podemos e devemos mudar o Mundo! É urgente inverter a exponencial desumanização civilizacional que enfrentamos. Não nos conformemos com esta tão triste realidade. Mudemos este Mundo, mas mudemo-lo deveras. Mudemo-lo com espírito e razão, com conhecimento e objectividade. Mudemo-lo, aqui e agora, para que não morra… definitivamente.





Bibliografia


BÉRANGER, Robert Jarrige,C. ; Beef cattle production; em http://books.google.pt

ROCHA, Júlia Sampaio Rodrigues, LARA, Leonardo José Camargos, BAIÃO, Nelson Carneiro; Produção e Bem-estar animal, Aspectos éticos e técnicos da produção intensiva de aves em http://www.veterinaria-nos-tropicos.org.br/suplemento11/49-55.pdf
VENTURINI, Katiani Silva, SARCINELLI, Miryelle Freire, SILVA, Luís César da; Abate de suínos em http://www.agais.com/telomc/b01407_abate_suinos.pdf
Portaria Nº 422, DE 13 DE MAIO DE 2008; em http://members.wto.org/crnattachments/2008/sps/BRA/08_1545_00_x.pdf
http://www.greenpeace.org/international/press/releases/greenpeace-prevents-soya-from-2
http://www.npr.org/templates/transcript/transcript.php?storyId=113314725
http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsID=20772&Cr=global&Cr1=environment
http://naturlink.sapo.pt/article.aspx?menuid=21&cid=8366&bl=1&section=1
http://www.fao.org
http://portal.min-agricultura.pt/portal/page/portal/MADRP/PT
http://www.maotdr.gov.pt
http://www.un.org
http://www.globalwarmingsummit.com
http://www.searo.who.int/en/Section1257/Section2181/Section2211/Section2215_11374.htm
http://www.eatright.org/cps/rde/xchg/ada/hs.xsl/advocacy_933_ENU_HTML.htm
http://answers.google.com/answers/threadview/id/208761.html



Além desta bibliografia, a investigação teve também outras fontes, nomeadamente dois engenheiros do ambiente, com experiência de vistorias em explorações de pecuária, com quem conversámos.

Os Direitos dos Animais na Área de Projecto

Chegados ao 12.º ano, é hora de enfrentar um dos últimos desafios em falta para concluir o Ensino Secundário: frequentar a Área de Projecto. Esta disciplina, nem sempre é valorizada. Pode e deve ser olhada de outro modo. Cabe a cada um de nós desenvolver todos os esforços possíveis para que haja interesse em contribuir para os trabalhos de Área de Projecto, dentro e fora da sala.
Foi neste contexto que a turma de Ciências Socioeconómicas, 12III, decidiu, por sugestão do Professor Jorge Cardoso, lançar diferentes temas mensais, no âmbito no tema anual do colégio Sim, podemos mudar o Mundo, para aprofundar ao longo do ano lectivo, entre os meses de Outubro e Maio. De facto a selecção temática prende-se  com assuntos que marcam a actualidade e que, por vezes, são desconhecidos ou ignorados. No mês de Outubro, que agora finda, abordou-se o tema dos Direitos dos Animais.
Temas a abordar:
Novembro: Voluntariado, ajuda a uma causa.
Dezembro: Ajuda aos Sem abrigo.
Janeiro: Promoção da educação. Maior civismo.
Fevereiro: Luta contra a violência e a protecção das vítimas.
Março: Luta contra a discriminação: Racial, sexual, política.
Abril: Protecção do ambiente. Procurar sustentabilidade.
Maio: Direitos e protecção da criança.
Neste sentido,  apelamos a que participes nas discussões no forúm  e no blog, podendo dialogar nossa turma pretende envolver toda a comunidade escolar neste processo de acerca  destes e outros temas muito actuais. A tua ajuda e a tua imaginação, poderão ajudar a tornar alguém mais feliz, através de uma nova ideia. A mudança. Mudar o Mundo. Bora la?


Ou envia um e-mail para o contacto: mudaromundo@netcabo.pt

Porquê os Direitos dos Animais

Por Pedro Pinto, 12ºIII

O que podemos dizer sobre este assunto tão controverso na sociedade portuguesa e tão esquecido pelo Homem em geral?
Em Dezembro de 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU) promulgou a Carta Universal dos Direitos do Homem, que se pode afirmar como um dos seus grandes feitos, já que esta organização tinha apenas três anos de existência. Em sentido lato, podemos dizer que “o Homem é um animal”, mas que se diferencia dos restantes seres vivos por ser o único a possuir “capacidades racionais”, tornando-se, assim, naquele que tem simultaneamente mais direitos, mas também mais deveres à escala planetária.
Foi o homem quem tornou possível o mundo que hoje conhecemos, a transbordar de tecnologia e de avanços que nos surpreendem a todos nós a cada dia que passa. Contudo, a Terra não lhe pertence exclusivamente. Num ecossistema como o nosso, em que diversas naturezas coabitam, existe uma relação inexorável entre todos os seres vivos, quer sejam pensantes ou não. Possuindo o homem uma faculdade – a sua racionalidade – que o distingue de todos os habitantes da Terra, devemos procurar defendê-la e honrá-la, não caindo em ideias e comportamentos sem fundamento, o que não colide actualmente, de forma alguma, com as necessidades básicas do Homem. Podemos, seguramente, sobreviver de forma saudável sem profanar não só a integridade das outras espécies como também a nossa civilização.
Deste modo, torna-se efectivamente da maior urgência abordar e combater a exploração e brutalização descontrolada dos animais, já que o homem encerra na sua génese o dever de respeitar os direitos dos animais e as suas características. Com efeito, desde a exploração exclusiva de animais para o comércio de peles, até ao célebre espectáculo das touradas, passando pelos treinos intensivos dos mais diversos animais para exibição nos circos, muito há ainda para fazer pela melhoria dos direitos dos animais e, pode acrescentar-se, pelos deveres do Homem enquanto ser pensante.
É certo que os interesses económicos dominam o mundo capitalista de hoje, mas todos nós temos de fazer os possíveis para que a exploração dos animais possa ser evitada, ou pelo menos minimizada. Se no que concerne ao comércio de peles existem já directivas comunitárias que restringem a importação de certas peças, no que diz respeito às touradas ou aos circos a discussão torna-se mais acesa. É certo que é utópico banir dos espectáculos os animais, que dão alegria a todos nos circos e que encantam crianças, mas há que fazer um melhor controlo dos treinos, através de entidades isentas e imparciais para evitar um tão grande desgaste físico e psicológico dos animais. Já no que concerne às touradas, o divertimento não é tanto para as crianças, que não devem inclusivamente ver esse espectáculo atroz antes dos 10 anos sem acompanhamento parental, mas antes para os adultos . Em Portugal a tourada é uma tradição já muito antiga e célebre, que até há bem pouco tempo nunca se tinha interrogado acerca do sofrimento dos touros em plena praça pública. Neste caso, deve tentar-se num futuro próximo reflectir-se acerca da legitimidade deste espectáculo, procurando-se alcançar soluções que permitam que as touradas possam modernizar-se sem necessariamente deixarem de existir. Fará ainda a tourada sentido actualmente? Na verdade, poderemos alegar que os touros são treinados desde pequenos para esse “grande” espectáculo por ser uma tradição. Mas poderemos também defender que é legítimo fazê-los sofrer?


TOURADAS


PELES

Queres apadrinhar um animal na União Zoófila

Por Grupo Basa Soma, 12ºIII

A União Zoófila ( UZ ) é uma sociedade protectora dos animais, sem fins lucrativos, que alberga cerca de oitocentos cães e  duzentos gatos. A União Zoófila sobrevive essencialmente graças a quotas de sócios, contribuições ,trabalho de voluntários… E pode também sobreviver graças a ti!
A União Zoófila tem uma modalidade que é a de apadrinhamento de animais. O apadrinhamento é uma forma de contribuir directamente para a protecção e bem-estar dos animais. Através do apadrinhamento estás a contribuir com um valor mensal que cobrirá uma parte da despesa que a associação tem com o animal em causa. Se quiseres apadrinhar um cão, terás de pagar 13 euros mensais, mas se preferires um gato, então terás de pagar 8 euros por mês.
A UZ tenta que os animais seniores, doentes, os que têm características particulares em termos de personalidade que impossibilitam a sua adopção e os que por algum motivo foram maltratados e têm marcas físicas e/ou psicológicas sejam os apadrinhados, mas és livre de escolher o animal com que mais te identificares. É essencial que a relação entre afilhado/ padrinho seja boa. Deste modo é fulcral que os primeiros contactos entre o animal e o padrinho sejam feitos dentro da box, de forma a que o animal comece a conhecer o padrinho. Quando fores visitar o teu afilhado, podes levar-lhe mimos como ossos, biscoitos, brinquedos, mas sempre que possível deves levar também para os outros animais que estão com ele na box, para evitar conflitos provocados pelo ciúme e infelicidade dos outros animais.
 Se quiseres, e se o animal já estiver preparado, podes pedir a um responsável para soltar o teu afilhado nos espaços livres da UZ. Mais uma vez, tens de ter em atenção os outros animais da box, uma vez que o facto de um sair e os outros permanecerem presos pode originar conflitos quando o teu afilhado regressar a box. Assim, deves pedir ao responsável para soltar todos os animais da box. Quando o afilhado estiver preparado, poder-se-ão realizar passeios fora da UZ, e se quiseres mimar o teu afilhado com um fim de semana, poderás combinar tudo com a UZ.
Ao apadrinhares um animal estás não só a ajudar a União Zoófila, mas estás também a criar um novo amigo que nunca te abandonará. Os cães são animais naturalmente afectuosos e precisam de se sentir amados, para deste modo te darem um amor incondicional de agradecimento. Já sabes como podes ajudar, e não tenhas duvidas que o amor que o teu afilhado te der será a melhor recompensa que vais ter!!!
Para mais informações visita o site da União Zoófila: www.uniaozoofila.org e os nossos blogue e fórum.

Porquê o TGV

Por Pedro Pinto, 12ºIII

Portugal é um país periférico, embora tenha sido curiosamente aquele que mais contribuiu para acrescentar novos territórios ao mundo a partir da grande aventura dos Descobrimentos, no século XVI. Situado no extremo ocidental do “velho continente”, e fazendo apenas fronteira terrestre com a Espanha, o nosso país sempre se encontrou muito dependente do território vizinho, ainda que tenha encontrado ao longo de séculos no vasto Oceano Atlântico a estrada que lhe permitia comunicar com o mundo.
    No início do século XIX, por época da introdução das linhas de caminho-de-ferro na Europa, as invasões napoleónicas faziam temer a Península Ibérica. Vendo na fronteira entre o território espanhol e o território francês um ponto de potencial perigo, Espanha adoptou um procedimento singular, que consistia em alterar o espaçamento entre os carris – bitola – de 1,44 metros para 1,67 metros, de forma a acautelar possíveis invasões no seu país. Assim, apenas por um motivo estratégico-militar, já nas primeiras décadas do século XIX, se iria comprometer a interoperabilidade do caminho-de-ferro, ou seja, a capacidade de circulação de um qualquer comboio em qualquer país da Europa, independentemente do seu tipo.
    Com largos anos de atraso face a outros países europeus, nomeadamente a França ou o Reino Unido, Portugal inaugurou a sua primeira linha de caminho-de-ferro apenas em 1856. A duração da primeira viagem, entre a capital do país e o Carregado, que teve lugar no dia 28 de Outubro, rondou os 40 minutos, para percorrer os 36 quilómetros que separavam as duas localidades. Ainda construída em bitola europeia, com um espaçamento entre os carris de 1,44 metros, a Linha do Leste foi rapidamente prolongada do Carregado até à zona do Entroncamento, para depois tomar uma orientação para o lado espanhol. Entretanto, enquanto se iam realizando os projectos que levariam a linha até Elvas, Portugal começou a debater-se com um grave problema: chegado a território espanhol, os comboios não podiam prosseguir caminho, já que a bitola espanhola não era compatível com a bitola portuguesa. Desta forma, os troços mais recentes da Linha do Leste acabaram por ser já construídos de acordo com o espaçamento entre os carris espanhol. Quando os comboios chegaram a Elvas, em 1863, ou a Vila Nova de Gaia, no ano seguinte, a bitola em todo o país era já a espanhola, agora denominada de ibérica. O caminho para o isolamento entre Portugal e Espanha e a Europa estava agora definitivamente comprometido.
    Seguindo o progresso e a evolução tecnológica, um século mais tarde, em 1981 é inaugurado em França, entre Paris e Lyon, o primeiro troço do TGV – Train à Grande Vitesse – um comboio de alta velocidade que podia inicialmente atingir os 270 quilómetros por hora, com bitola de 1,44 metros. Não ficando imune ao projecto do TGV, Espanha inaugurou onze anos depois, em 1992, o seu primeiro troço de AVE – Alta Velocidad Española – entre Madrid e Sevilha, com o propósito de ligar a capital à cidade da Andaluzia onde se iria realizar a Expo'92. Antecipando já a possibilidade de uma ligação ferroviária de alta velocidade com França, o AVE foi construído em bitola europeia, com 1,44 metros de espaçamento entre os carris, podendo alcançar uma velocidade comercial de 300 quilómetros por hora. Já Portugal precisou de mais sete anos para desenvolver o seu primeiro comboio de velocidade elevada, mas não de alta velocidade, o Alfa Pendular, cuja primeira viagem entre Lisboa e o Porto se realizou em 1999. Podendo alcançar os 220 quilómetros por hora, e circulando na Linha do Norte, o Alfa Pendular nunca pôde cumprir o seu objectivo de ligar as duas principais cidades do país no menor tempo possível, que se estima em 1 hora e 50 minutos, designadamente por circular numa linha ainda não completamente renovada, que inclui mesmo várias passagens de nível, e por ter de partilhar os mesmos carris com outros comboios, como o Intercidades, o que explica que a sua bitola seja ainda e sempre a ibérica. Actualmente, já 10 anos depois da primeira viagem técnica entre a Estação de Santa Apolónia, em Lisboa, e a Estação da Campanhã, no Porto, o Alfa Pendular continua a precisar de 2 horas e 44 minutos para percorrer a Linha do Norte, mesmo após terem sido gastos milhões de euros na renovação de pequenos troços. Já em 2003, o Alfa Pendular chegou a Faro via Estação do Oriente, fazendo a travessia do Tejo através do tabuleiro ferroviário da Ponte 25 de Abril, inaugurado quatro anos antes, e também construído em bitola ibérica, para fazer a ligação do eixo ferroviário entre as duas margens da cidade de Lisboa.
    Em Novembro de 2003, teve lugar a XIX Cimeira Ibérica, na qual a rede ferroviária de alta velocidade na Península Ibérica ganhou finalmente forma, após longos anos de adiamento, graças ao acordo entre o Primeiro-Ministro Português, Durão Barroso, e José María Aznar. Na verdade, sem este entendimento, seria um erro estratégico para o país desperdiçar os elevados financiamentos da União Europeia (UE) para a construção do TGV, que rondariam os 80% do custo total do empreendimento, e que poderiam ficar em causa logo após o alargamento da UE ao leste europeu, a partir de 2004. Fechado o acordo entre ambos os países de construir o TGV, eram cinco as linhas de alta velocidade previstas, que se dividiram nos troços Lisboa-Évora-Badajoz-Madrid, Lisboa-Aveiro-Porto, Porto-Vigo, Aveiro-Salamanca, e Évora-Faro-Huelva. A natural prioridade ia para as três primeiras, cuja data de conclusão era apontada para 2010, e que se compunha por um eixo transversal, a “nova” Linha do Norte, agora levada até Vigo, e por outro eixo longitudinal, que ligaria a capital portuguesa a Madrid. A partir de 2015, avançar-se-ia com a ligação Aveiro-Salamanca, que formaria o “π” deitado, restando apenas para 2018 a ligação que sobejava, entre Évora-Faro-Huelva, precisamente por se questionar a sua rentabilidade. 
    Após este ambicioso acordo, começaram a fazer-se os projectos que tornariam possível a ligação em alta velocidade com a vizinha Espanha. Contudo, passados poucos meses, logo se detectou um problema que há muito se vinha a arrastar nas ferrovias portuguesas: a ausência de um sequer quilómetro construído em bitola europeia numa rede com perto de três mil voltando a não se cumprir o desígnio da interoperabilidade. 
Na verdade, mesmo havendo sido prioridades portuguesas desde a sua adesão à UE a electrificação e renovação de várias linhas, como a Linha do Norte, que ainda hoje decorre e com derrapagens muito significativas, ou a Linha da Beira Alta, nunca foi prevista a adaptação da bitola destes troços do modelo ibérico para o europeu, através de travessas de dupla fixação, também conhecidas por bi-bitola, e que poderiam reduzir drasticamente os custos da construção do TGV em Portugal.
No que se refere ao atravessamento dos rios Douro e Tejo, o problema da ausência da bi-bitola coloca-se também no caso da travessia ferroviária da Ponte São João, no Porto, construída em 1991 para substituir a “velha” Ponte Dona Maria Pia, em que os comboios não podiam exceder os 20 quilómetros por hora. Ainda assim, se no caso do Porto, a natureza da Ponte São João, construída em betão armado, permite sem constrangimentos a introdução da bi-bitola, e não compromete o percurso do TGV dentro da cidade, no caso da Ponte 25 de Abril não só a sua estrutura construtiva iria trazer alguns constrangimentos técnicos à circulação do TGV como também o obrigaria a fazer um percurso demasiado longo na Península de Setúbal e dentro da própria cidade de Lisboa, onde se iria também cruzar com outros comboios. Assim, ao perder eficiência, e por poder baixar a velocidade média da viagem entre Lisboa e Madrid, será quase inevitável a construção de uma Terceira Travessia sobre o Tejo (TTT), sob pena de a procura ficar reduzida e de ficar posta em causa a existência da linha, dado que a Ponte Vasco da Gama não foi projectada para receber um tabuleiro ferroviário. Já quanto à localização da estação do TGV na capital, a Gare do Oriente tem como mais-valia a ligação directa ao metropolitano, necessitando apenas de obras de ampliação e adaptação.
Antes de terminar, não podemos deixar de considerar se esta é ou não a época ideal para iniciar a construção de um projecto tão arrojado como o TGV. Se, por um lado, a crise económica mundial abalou e abala a economia portuguesa, muito dependente do exterior, por outro não podemos abdicar de pelo menos uma ligação a Espanha em alta velocidade, que beneficiará tanto o transporte de passageiros como o de mercadorias. Ultrapassada a dúvida da localização do Novo Aeroporto de Lisboa (NAL), entre a Ota e Alcochete, deixa de ser estritamente necessário levar o TGV ao Porto para passar no Aeroporto da Ota, para se considerar agora apenas um ramal na linha Lisboa-Madrid para o acesso ao Aeroporto de Alcochete. Por outras palavras, com a opção da Ota eliminada, com os constrangimentos que poderiam advir para Portugal de um eventual endividamento numa época de crise económica, e com o Alfa Pendular a funcionar, pode considerar-se muito sensatamente o adiamento da construção do TGV entre Lisboa e o Porto.
Conforme já se referiu, caso o Alfa Pendular tirasse proveito das potencialidades da Linha do Norte totalmente modernizada, poder-se-ia fazer a viagem Lisboa-Porto em cerca de 1 hora e 50 minutos, trazendo o TGV apenas uma melhoria de 20 minutos, que deveria ainda ser posta em causa com o número demasiado elevado de estações que se prevê construir na linha Lisboa-Porto. Por outro lado, uma vez que o Alfa Pendular chega também a Braga, a partir dessa cidade poder-se-ia estudar uma ampliação da rede coberta por este comboio até à fronteira, que não dista mais de 65 quilómetros, fazendo-se depois a ligação a Espanha com recurso a um intercambiador, ou seja, a um mecanismo de alteração da bitola quase automático, sem ser necessária a introdução do bi-bitola, mais rentável em percursos de maior extensão e comuns a dois tipos diferentes de comboios. Desta forma, apenas com a alteração dos eixos e das bogies do Alfa Pendular, seria talvez possível solucionar o problema do atravessamento da fronteira que a linha Porto-Vigo impõe.
Paralelamente, a canalização de uma linha de alta velocidade entre Lisboa e Madrid tornaria o país muito mais central no contexto europeu, especialmente se tivermos em conta o importante papel que o Porto de Sines pode ter como “porta de entrada” de mercadorias para o continente europeu. Na verdade, com um ramal de alta velocidade entre Sines e a linha Lisboa-Madrid, seria possível tirar as potencialidades do Porto de Sines, nomeadamente a sua posição estratégica no contexto atlântico, no triângulo Europa-América-África, a sua elevada profundidade, que não condiciona a atracagem dos navios, e a sua forte modernização, com mecanismos avançados de movimentação de mercadorias, nomeadamente os sistemas “ro-ro” e “lo-lo”. Ao acentuar-se a complementaridade entre os diferentes meios de transporte, poder-se-ia descongestionar as rodovias, tanto a nível interno como externo, e acentuar-se-ia uma especialização de cada tipo de transporte, o que iria ainda aumentar a sua eficiência e também a própria competitividade das nossas exportações. Importante seria também pensar para médio/longo prazo a concretização da linha Aveiro-Salamanca, que ainda assim não deveria avançar para já devido aos custos elevados que traria para o país.
    Desta forma, com a linha Lisboa-Madrid, seria possível a Portugal ambicionar uma maior centralidade no contexto europeu, através de um acesso mais rápido e eficiente, podendo competir e rivalizar com o avião entre as capitais portuguesa e espanhola, recuperando assim ambos os países um isolamento que mantêm há perto de 200 anos. Esperemos, pois, que impere o bom senso e que se analisem ponderadamente os benefícios e os custos de cada linha de TGV, aproximando o país do centro nevrálgico da Europa.


Bibliografia:
Prof. Eng.º António Brotas, Prof. António Barreto, Escultor Cerveira Pinto, Prof. Eng.º António Diogo Pinto, Prof. Doutor Galopim de Carvalho, Arq.º Carlos Sant'ana, Eng.º Frederico Brotas de Carvalho, Arq.º Gonçalo Ribeiro Telles, dr. José Carlos Morais, Major General Pilav. José Krus Abecasis, General José Loureiro dos Santos, Judite França, Arq.º Luís Gonçalves, Prof. Mendo Castro Henriques, Dr. Miguel Frasquilho, Patrícia Pires, Dr. Pedro Quartin Graça, Engº Reis Borges, Dr. Rui Moreira, Rui Rodrigues, Eng.ª Teresa Maria Gamito e Dr. Vítor Bento, O Erro da Ota, 2007, Tribuna da História.

Freud, o psicanalista

Por Filipa Barroso, 10ºIV

Nicolau Copérnico, Charles Darwin e Sigmund Freud foram os grandes responsáveis pela modificação da imagem do ser humano acerca de si próprio. O orgulho do homem sofreu três grandes golpes em virtude do trabalho destes três pensadores.
Antes de Copérnico o homem julgava ocupar um lugar central no Universo, acreditando que todos os corpos celestes giravam em torno do planeta por si habitado. Porém, o astrónomo desfez tal ilusão e demonstrou que o planeta Terra éum entre muitos que giram em torno do sol.
    Antes de Charles Darwin o homem julgava pertencer a uma espécie única e distinta da do reino animal. No entanto, o grande biólogo fez ver que o organismo humano não era nada mais do que o produto de um vasto processo evolutivo cujas leis em nada diferem da dos animais.
    Antes de Sigmund Freud o homem acreditava que o que dizia e fazia dependia exclusivamente da sua vontade consciente. O  neurologista vem, no entanto, a revelar a existência de outra parte da mente humana que funciona no mais obscuro segredo e que pode mesmo comandar a vida do homem.
nasceu em 1856 e estudou medicina em Viena, tendo-se especializado em neurologia e vem a contradizer os racionalistas do século XVIII, negando que o homem é um ser meramente racional e afirmando que os impulsos irracionais são igualmente causadores dos pensamentos, sonhos e acções. Estes impulsos irracionais são, muitas vezes, o reflexo de desejos que o homem não se permite ter, ou seja, são a expressão de vontades que o homem tem, mas que se recusa a aceitar. Assim, estas necessidades adquirem outra forma e passam despercebidas, isto é, sem que tenhamos consciência disso o homem deixa transparecer esses desejos. Portanto, quando o homem deseja algo intensamente, e simultaneamente se sente envergonhado por o desejar, “esquece” e reprime esse mesmo desejo. Freud designa este processo de afastamento dos desejos do pensamento consciente (esquecimento) de recalcamento. Este processo dá-se sobretudo com os desejos eróticos ou sexuais e é exactamente este conflito entre o prazer e a culpa que está na base do recalcamento. As vontades recalcadas tendem naturalmente a retornar à consciência, pelo que manter tais anseios no inconsciente requer um elevado esforço e implica gastos de energia. O neurótico é justamente aquele que emprega energia em demasia na tentativa de manter ocultos tais ocultos Em ordem de manter a saúde psíquica torna-se relevante prestar atenção aos indícios provenientes do inconsciente e segundo Freud a porta para o inconsciente é a interpretação dos sonhos.
No limite entre a consciência e a inconsciência haverácensura, que impede a passagem dos sentimentos desagradáveis e conflituosos, permitindo acesso ao restante conteúdo. Comparativamente ao estado de vigília, durante o sono a referida censura não funciona na sua plena ascensão. O seu funcionamento é, no entanto, suficiente para justificar a necessidade de os sonhos serem deformados e camuflados e não óbvios. Citando Freud, “ Os sonhos possuem um aspecto inusitado, não se apresentam sob as formas linguísticas sóbrias das quais o nosso pensamento comummente se serve. Utilizam, pelo contrário, uma linguagem simbólica recorrendo a comparações e metáforas, chegando mesmo a constituir uma forma de linguagem figurativa e poética.”. O sonho imagético é aquilo a que Freud chama de conteúdo manifesto, mas este possui escondido e codificado um sentido mais profundo a que deu o nome de conteúdo latente. Por esta razão torna-se necessário interpretar o sonho e não entender a sua mensagem à letra. É interessante notar a semelhança entre a interpretação da poesia ou da arte e a análise do sonho. Recorrendo a um exemplo: um jovem sonha que a sua prima lhe oferece dois balões. O conteúdo manifesto é exactamente o sonho em si mesmo, enquanto que o conteúdo latente é a expressão do desejo que o jovem sente pela prima, visto que os dois balões simbolizam os seios desta.
Freud explora esta vertente dos sonhos como meio para penetrar no inconsciente, tendo publicado várias obras respeitantes ao assunto, nomeadamente A Interpretação dos Sonho e Sobre os Sonhos. Freud recorria também à terapêutica pela catarse hipnótica, através da qual obteve excelentes resultados e desenvolve ainda a técnica da associação livre como outra forma de detectar recalcamentos. Segundo esta, o paciente deita-se descontraído no divâ e fala sobre quaisquer assuntos que lhe venham à cabeça, sem filtrar nenhuns. Ou seja, independentemente de parecerem ou não relevantes, o paciente revela ao seu analista os seus pensamentos, verbalizando-os a todos sem os seleccionar. Colaborando com o paciente, o psicanalista prossegue à análise dos mesmos.
Os estudos realizados por Sigmund Freud foram pioneiros no que diz respeito ao estudo do inconsciente Humano. A imagem para a qual a comparação da consciência à ponta de um iceberg emersa e da inconsciência ao restante iceberg oculto nas profundezas das águas remete foi totalmente inovadora. As teses Freudianas acerca do inconsciente tiveram repercussões na vida quotidiana, na literatura e na arte. Poetas e pintores sentavam-se perante uma folha em branco e tentavam canalizar as forças inconscientes para o papel, tentado eliminar a censura e fomentar a fluidez das ideias. Este movimento adquiriu o nome de surrealismo e teve como base o trabalho iniciado por Freud.

desejos. Em ordem de manter a saúde psíquica torna-se relevante prestar atenção aos indícios provenientes do inconsciente e segundo Freud a porta para o inconsciente é a interpretação dos sonhos.                         No limite entre a consciência e a inconsciência haverácensura, que impede a passagem dos sentimentos desagradáveis e conflituosos, permitindo acesso ao restante conteúdo. Comparativamente ao estado de vigília, durante o sono a referida censura não funciona na sua plena ascensão. O seu funcionamento é, no entanto, suficiente para justificar a necessidade de os sonhos serem deformados e camuflados e não óbvios. Segundo Freud, “ Os sonhos possuem um aspecto inusitado, não se apresentam sob as formas linguísticas sóbrias das quais o nosso pensamento comummente se serve. Utilizam, pelo contrário, uma linguagem simbólica recorrendo a comparações e metáforas, chegando mesmo a constituir uma forma de linguagem figurativa e poética.”. O sonho imagético é aquilo a que Freud chama de conteúdo manifesto, mas este possui escondido e codificado um sentido mais profundo a que deu o nome de conteúdo latente. Por esta razão torna-se necessário interpretar o sonho e não entender a sua mensagem à letra. É interessante notar a semelhança entre a interpretação da poesia ou da arte e a análise do sonho. Recorrendo a um exemplo: um jovem sonha que a sua prima lhe oferece dois balões. O conteúdo manifesto é exactamente o sonho em si mesmo, enquanto que o conteúdo latente é a expressão do desejo que o jovem sente pela prima, visto que os dois balões simbolizam os seios desta.
explora esta vertente dos sonhos como meio para penetrar no inconsciente, tendo publicado várias obras respeitantes ao assunto, nomeadamente A Interpretação dos Sonho e Sobre os Sonhos. Freud recorria também à terapêutica pela catarse hipnótica, através da qual obteve excelentes resultados e desenvolve ainda a técnica da associação livre como outra forma de detectar recalcamentos. Segundo esta, o paciente deita-se descontraído no divâ e fala sobre quaisquer assuntos que lhe venham à cabeça, sem filtrar nenhuns. Ou seja, independentemente de parecerem ou não relevantes, o paciente revela ao seu analista os seus pensamentos, verbalizando-os a todos sem os seleccionar. Colaborando com o paciente, o psicanalista prossegue à análise dos mesmos.
    Os estudos realizados por Sigmund Freud foram pioneiros no que diz respeito ao estudo do inconsciente Humano. A imagem para a qual a comparação da consciência à ponta de um iceberg emersa e da inconsciência ao restante iceberg oculto nas profundezas das águas remete foi totalmente inovadora. As teses Freudianas acerca do inconsciente tiveram repercussões na vida quotidiana, na literatura e na arte. Poetas e pintores sentavam-se perante uma folha em branco e tentavam canalizar as forças inconscientes para o papel, tentado eliminar a censura e fomentar a fluidez das ideias. Este movimento adquiriu o nome de surrealismo e teve como base o trabalho iniciado por Freud.

Charles Kao, o pai da comunicação por fibras ópticas

Por Francisco Brandão Ferreira, 12ºIB

Este ano vimos uma das mais inovadoras tecnologias do Séc XX ser reconhecida com o mais prestigiado premio científico da actualidade –Prémio Nobel.
 Ao contrário de anos anteriores onde o prémio foi atribuído por descobertas na área da física teoria e física de partículas (áreas que nos permitem discernir o que terá sucedido nos primórdios do universo e até o que originou o próprio universo), como por exemplo em 2008, quando o prémio foi atribuído a 3 japoneses pela descoberta da origem de partículas subatómicas ou quarks, o prémio deste ano visa uma descoberta não de carácter universal, mas de carácter tecnológico.
 No início dos anos 60, Kao começou a desenvolver o seu trabalho na tecnologia inovadora que eram as fibras ópticas.
 Este meio de comunicação de informação consiste numa estrutura contendo um núcleo onde a luz se propaga com uma velocidade menor do que aquela com que se propaga no vazio. Diz-se que este meio tem um elevado índice de refracção. Este núcleo é envolto num segundo material com um índice de refracção mais baixo. Esta estrutura permite então a propagação de luz (e consequente transmissão de informação) a longas distâncias.
    Kao destacou-se especialmente na descoberta de materiais que permitissem este fenómeno com a menor perda de intensidade ao longo do percurso da fibra, como por exemplo a fibra de vidro constituída por sílica, que ématerial com pouquíssimas impurezas. O trabalho de Kao nesta área permitiu uma maior disseminação da tecnologia da fibra óptica pois mostrou que o processo físico e óptico por detrás da tecnologia era correcto e que potenciais perdas de sinal se deveriam a matérias menos adequados usados na produção das fibras.
   
Actualmente esta fantástica tecnologia torna possível a transmissão de informação a alta velocidade e a grandes distâncias. Exemplos disso são por exemplo a Internet de banda larga e a transmissão de imagens de televisão em alta definição. Para termos uma ideia do “tamanho” desta tecnologia com 40 anos que é este ano laureada podíamos reunir num único fio toda a fibra óptica já instalada pelo mundo fora e constataríamos que o seu comprimento é superior a 1 bilião de Quilómetros, o que seria suficiente para dar 25 000 voltas ao planeta.
 Gostaria de deixar neste artigo o meu pensamento sobre o Premio Nobel da Física deste ano pois édescoberta sem o qual o mundo moderno, o mundo como o conhecemos não poderia existir e principalmente gostaria de reconhecer o mérito do Dr. Charles Kao e da sua descoberta que todos os alunos de Ciências e tecnologias têm o prazer de estudar no 11ºAno.

Música de Câmara, 15 anos e quatro tempos

Pelo Professor António Carlos Cortez


1. O MAGISTÉRIO DA MÚSICA


15 anos de Música de Câmara. Isto é, quinze anos de iniciativas, de participações nos mais diversos eventos, nas mais variadas ocasiões e sempre sob o signo do magistério, empenho e orientação do professor José Teixeira É digno de nota e merece toda a justiça o trabalho que o nosso colega vem desenvolvendo, desde 1994, com os alunos – os muitos alunos – com quem tem trabalhado. Todos eles são um enorme motivo de orgulho, exemplos acabados de que o trabalho, a música, a fraternidade neste Grupo de Música de Câmara, conduzem a um projecto em permanente revitalização, atento às tradições do repertório nacional (de Lopes Graça a José Afonso ou Trovante), sem esquecer o diálogo com composições ou intérpretes mais actuais, da música pop (Michael Jackson, por exemplo) ao tesouro musical que constitui o nosso romanceiro popular.

2.UM PROJECTO PEDAGÓGICO:
ENTUSIASMO E INVESTIMENTO

O Grupo de Música de Câmara aprofundou, desde o início, e como requisito pedagógico indissociável da prática educativa, as técnicas vocais e instrumentais, respeitando a diacronia da história musical e formando alunos conscientes dessa mesma história. A paixão pela música – e no que de saborosa melomania se reveste esse aprendizado – uniu o professor José Teixeira aos alunos e estes, em acto contínuo, com a Direcção presidida, desde 1985, pela Drª Isabel Soares.
Desde a primeira hora, a formação musical integrou o próprio Projecto Educativo do Colégio Moderno, funcionando, também de forma integrada, na organização das Semanas Temáticas que, desde 2003, ocorrem na nossa escola. É, pois, comum ao espírito das Semanas Temáticas o espírito da música com que nos brinda o Grupo de Música de Câmara. Tudo converge para um ambiente de freternidade e sensibilidade, unindo o professor José Teixeira a intuição musical ao “honesto estudo” (como diria Camões) que essa linguagem dos anjos impõe. “Entusiasmo e investimento colectivos”, assim me escreve o José Teixeira, assim o oiço ao falar do trabalho desenvolvido nestes quinze anos. E é impossível não relembrar aqui, no nosso jornal, algumas iniciativas que justificam esse entusiasmo e esse investimento.

3. MÚSICA, CULTURA E POESIA


Se é verdade que desde 1994 o Grupo de Música de Câmara se envolveu em diversas acções de formação cultural, para além da sua componente pedagógica interna, não menos verdade é que, hoje, o Grupo de Música de Câmara se vê – por mérito próprio – associado a práticas culturais que a nossa escola tem proporcionado aos alunos e a toda a comunidade escolar. Em 1999, fundando-se o Grupo de Câmara Masculino e Feminino, logo os alunos abraçaram a homenagem a Aristides de Sousa Mendes, bem como se associaram às celebrações do 25 de Abril sob a égide da Junta de Freguesia do Campo Grande. Outras acçlões projectaram o nosso grupo, tais como o concerto "O Mundo das Crianças", no Centro Cultural de Belém, bem como as participações em eventos cívicos marcantes na história recente de Lisboa (tocaram no Museu da Cidade no Dia da Música, prestaram o seu tributo na homenagem ao maestro João de Freitas Branco, em acção de intercâmbio de várias escolas com grupos musicais requisitados para esse fim; estiveram presentes nas comemorações dos 400 anos do nascimento do Padre António Vieira, em 2006, por ocasião da Semana das Línguas e na celebração dos 70 anos de vida do Colégio Moderno, em 2008. Não cabe no espaço desta evocação, dar conta de todo o trabalho até agora realizado, mas é fruto do entusiasmo, sem dúvida!).

4. "NUNCA FUI RECEBIDO ASSIM EM NENHUMA ESCOLA! QUE ALEGRIA!"

Em todo o caso, se de música falamos, falamos também de poesia e de cultura. O Grupo de Música de Câmara foi ouvido inúmeras vezes e assim tem homenageado as personalidades culturais do nosso país que, desde a primeira edição das Semanas Temáticas têm sido convidadas para as mais diversas comunicações.
Não podemos deixar de referir alguns deste nossos convidados, os quais, sem pejo, mostraram o seu agrado, a sua alegria (o seu espanto) por a música ser no Colégio Moderno um cartão de visita que os honra. Em 2003, por ocasião do tributo do Colégio Moderno ao nosso antigo aluno, David Mourão-Ferreira, no Salão Nobre, tocou-se “Barco Negro”; aquando das comemorações dos 70 anos da instituição, acompanhados à música, o Dr. Mário Soares, o Presidente da Assembleia da República, Dr. Jaime Gama e o saudoso João Benard da Costa, guiados pela mão de Drª Isabel Soares, viajaram pela História do Colégio Moderno e falaram-nos da “Educação em Tempo de Resistência”. E como esquecer as comunicações de Isabel Alçada, José Jorge Letria, Francisco José Viegas, ou as participações de Guilherme de Oliveira Martins, Drª Maria Barroso, em 2007, sempre enlevadas pela altíssima qualidade musical dos nossos músicos?
Já em 2008/09 o Grupo de Música de Câmara colaborou nas mais diversas iniciativas do Colégio Moderno, tocando, abrindo as sessões, dando as boas-vindas, enriquecendo as comunicações, de figuras tão ilustres como António Cândido Franco, Fernando Pinto do Amaral, Gastão Cruz, Medeiros Ferreira, Possidónio Cachapa, Lídia Jorge, Ana Paula Tavares, Sobrinho Simões, Elvira Fortunato, Sofia Santos, Sérgio Nazar David... Quer dizer, tdos eles, de algum modo, saem do Colégio Moderno convictos de aqui a música alimenta e acompanha o espírito.
Sérgio Nazar David, poeta e professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e que aqui esteve em Março de 2009, disse-nos, mergulhado em alguma comoção, e após ouvir a Grupo de Música de Câmara: “Nunca fui recebido assim em nenhuma escola! Que alegria!”
Parabéns José Teixeira, parabéns aos alunos e que o futuro seja o eco – e se cumpra nesse eco – desse magistral verso de Jorge de Sena, poeta que deve à música, a Debussy, o aparecimento da poesia.