terça-feira, 17 de novembro de 2009

Borá lá fazer a Revolução

Por Márcia Gil Pedroso, 12ºII

Bora lá fazer a a revolução
Dar a volta a isto de uma vez por todas
Não consigo pactuar com este estado de coisas
‘Tá na hora de pegarmos no assunto com as nossas mãos
(Se tivermos que as sujar pois que assim seja, então)
Vamos ver:
Segunda não me dá jeito porque saio sempre tarde
À terça e à quinta tenho terapia não dá para faltar
(são dez contos por hora e faz-me bem chorar)
Às quartas tenho a lerpa com a rapaziada
Sabes que a cartada é sagrada –não me digas nada...
Sexta-feira é dia de apanhar uma bela toca e
Sábado levo o puto ao Happy Meal com um sorriso na boca
Resta o Domingo- só espero não estar muito cansado
Se o Benfica não jogar- tá combinado.

Weasel, in “Amor, Escárnio e Maldizer”, 2007

Esta música transmite-nos uma mensagem bastante irónica, a típica visão portuguesa das coisas, aquela tantas vezes ouvida no nosso dia-a-dia, que política reza assim “Ah, isto está tudo mal... A minha vida é uma desgraça... Mas e então? O que é que eu posso fazer para o mudar? Sou só eu...”. Mas infelizmente o que as pessoas não se apercebem é que antes de pensarmos em grandes revoluções é necessária uma mais pequena, a revolução pessoal.
Concentremo-nos no sujeito da música. Parece ser um homem dentro dos seus 30 anos de idade, vamos chamar-lhe “Carlos”. Carlos começa o seu discurso preparando um motim mas, depois de alguma reflexão, percebe que talvez não dê pois tem o seu horário demasiado apertado: existe o trabalho, a terapia, os sagrados jogos de cartas, a “toca”de sexta-feira, a ida ao Macdonald´s com o puto e talvez o jogo do Benfica . Agora pergunto: estará o Carlos disposto a fazer uma revolução? Estará ele pronto a abdicar dos seus vícios e hábitos para melhorar o mundo? Talvez não.
Agora coloquem-se no lugar dele: imaginem o vosso horário, com aulas, actividades extra-curriculares, compromissos familiares e essas obrigações que vos enchem a agenda . Estarão vocês prontos para abdicar de algumas dessas coisas em prol de uma revolução? Pensem sobre isso...
Antes de realizarmos grandes revoluções colectivas temos de tratar da nossa casa, da nossa família e de quem gostamos para, depois de estarmos em paz connosco, podermos tratar de mudar o Mundo.
Este texto não visa desmotivar ninguém, muito pelo contrário. Espero que depois de o lerem pensem no que é realmente importante para a vossa revolução pessoal. ’ Bora lá?



3 comentários:

  1. "O género de liberdade mais importante, é seres verdadeiro. Trocas a tua realidade por um personagem. Trocas os teus sentidos por uma actuação. Desistes da capacidade de sentir, e em troca pões uma máscara. Não pode haver uma revolução em grande-escala, se antes não houver a revolução individual da pessoa. Primeiro tem que acontecer cá dentro."
    James Morrison

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  2. No domingo estive no concerto de Natal do colégio. Verifiquei que as palavras do presidente da AMI, o dr. Fernando Nobre, foram aplaudidas energeticamente pelo público. A plateia vibrou com cada frase elogiosa, com cada afirmação épica de mudança e força de vontade. Algumas pessoas davam gritos de extitação perante a retórica reformista que todos gostamos de ouvir.

    Mais tarde, abandonando o edifício da reitoria, interrogei-me: quantas pessoas, quantos pais ou colegas daquele mesmo público sairam da Aula Magna tomando a decisão de exercer activismo, de perder o seu tempo a ajudar quem precisa, de prescindir dos banais presentes de Natal e oferecê-los alguma instituição?
    Temi que resposta fosse ninguém. Será?

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  3. Infelizmente Vasco, acho que a resposta é mesmo essa. É muito bonito dizer que nos preocupamos com os outros e que damos esmolas etc, mas depois nestas alturas é que se vê realmente quem está disposto a abdicar de banalidades. Dou-te um grande exemplo: sabias que houve pessoas que não foram ao concerto do Colégio porque se pagava? Mas depois ficam espantadas com a falta de dinheiro destas instituições e têm muita pena das pessoas que são ajudadas pelas mesmas. Se têm assim tanta pena porque é que não ajudam com 5 euros? Somos alunos do Colégio Moderno, nem todos andamos a nadar em dinheiro mas temos um certo nível de vida que nos permite ajudar nestas alturas... E isto é uma revolução pessoal, é preciso passar por cima deste egoísmo. O que são uns míseros 5 euros quando nesta época gastamos tanto? Aqui fica a pergunta...
    Márcia Gil Pedroso

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