Entrevista a Dr.ª Isabel Soares, pelo JM
Tivemos este ano interessantes comunicações, das mais ilustres personalidades, nas Semanas Temáticas. Como vê, em termos gerais, estas actividades?
Pensámos nas Semanas Temáticas, já há alguns anos, como forma de motivar os nossos alunos para o prazer do conhecimento, da cultura e da reflexão. O contacto com personalidades proeminentes, das mais diversas áreas da vida científica, literária e artística e a possibilidade de dialogar com elas abrem horizontes aos nossos alunos e estimulam a sua curiosidade. O entusiasmo com que se preparam e participam nestes colóquios é um testemunho inequívoco de que esta é uma aposta ganha, no imediato e a longo prazo.
Quando, no momento actual do país e do Mundo, o termo “crise” vai entrando pelas nossas casas adentro, parece-lhe que a cultura é a resposta adequada no combate à crise?
A meu ver, a cultura é sempre uma resposta adequada a todas as crises. Naturalmente, quando estão em causa questões de sobrevivência e necessidades básicas elementares, a sua resolução é prioritária. Mas, mesmo as tomadas de decisão no combate à crise económica e social, são mais eficazes quando os dirigentes políticos têm uma visão humanista e integrada da cultura e da história. Na minha perspectiva, a cultura e o conhecimento são os melhores antídotos contra a barbárie e qualquer tendência anti-democrática que surgem frequentemente associados a períodos de crise e assentam normalmente na ignorância.
Na verdade, a crise não é só financeira. Se falamos de crise, não podemos escapar à questão da crise de valores. Mas pode especificar, no seu entender, o que significa a expressão “crise de valores”? É que corremos o risco de, de tanto a repetir, ser mais um lugar comum…A escola ocupa, neste contexto, que papel?
A crise de valores não é um lugar comum, existe. Verificamos todos no nosso quotidiano a falta de rigor, a falta de seriedade, a pouca urbanidade, a falta de civismo, o gosto pela cultura efémera e descartável, em que tudo é possível e de satisfação imediata. Estamos a passar aos nossos jovens a ideia de que tudo é fácil, deve ser lúdico e de gratificação rápida. O rigor, o esforço e o trabalho não são interiorizados como verdadeiros valores. Alguns jovens constroem, assim, uma identidade superficial e sem densidade intelectual e afectiva. Como os jovens são os futuros dirigentes e cidadãos activos da nossa sociedade, cada vez mais global, a Escola tem um papel determinante no combate a esta tendência. Por isso, podemos e devemos ousar assumir esse papel, como fazemos no Colégio Moderno com estas iniciativas, trazendo a cultura e a ciência - o saber - à Escola.
Mas não lhe parece que, a par da escola, pertence aos pais a missão de educar, de facto?
Aos Pais e à Escola corresponde a missão de educar, embora com competências e papéis diferentes, mas complementares. Por isso, refiro sempre a ideia de uma “linguagem partilhada”, entre a família e a escola, no sentido de uma verdadeira convergência de objectivos. A não desautorização mútua é fundamental.
O Colégio Moderno tem formado gerações de alunos que, mais tarde, se destacaram como figuras da nossa cultura. Esses exemplos parecem-lhe poder funcionar, para os actuais alunos, como factores de motivação ou, pelo contrário, não são senão parte de uma história passada? Muitas vezes há a sensação de que desconhecemos quem por aqui passou, que diz pouco aos alunos saber que aqui estudaram José Sasportes, David Mourão-Ferreira, ou ensinaram Álvaro Salema, Urbano Tavares Rodrigues ou João Benard da Costa…
O Colégio Moderno é uma escola com memória e que cultiva essa memória. Todos os que por aqui passaram, com maior ou menor notoriedade, deixaram a sua marca. Mas aquilo que é comum a todos eles é o espírito humanista e solidário. Falar de David Mourão Ferreira, Gastão Cruz, João Bénard da Costa, Odete Ferreira, Mário Soares e Álvaro Cunhal - entre tantos outros - constitui, para nós, um orgulho e um dever, por aquilo que representam na História e na Cultura do país e pelo que as suas vidas e percursos podem servir como exemplo e inspiração para os nossos alunos.
Enquanto Directora do Colégio Moderno, que projectos para o futuro estão ainda por realizar?
Muitos. O nosso Projecto Educativo é um processo em permanente construção, fonte de diálogo, aberto à mudança. Isto só é possível por assentar em princípios e valores de que não abdicamos, e que lhe conferem uma identidade única. Temos que manter a capacidade de nos adaptarmos, através da inovação e da criatividade, às profundas alterações da sociedade. Continuaremos a apostar na vertente cultural, nas novas tecnologias, no reforço da Língua Portuguesa e da Matemática como pilares da aprendizagem. No desenvolvimento de projectos solidários e de voluntariado e sobretudo no envolvimento dos nossos alunos e suas famílias na vida da Escola. Para isso conto com toda a equipa educativa do Colégio.
Para os alunos que este ano se despedem da nossa escola, que seguirão a vida universitária, que mensagem gostaria de lhe deixar, tendo em conta o percurso que todos aqui fizeram e a marca que, em todos, o Colégio Moderno gravou?
Considero que o sentimento de ter cumprido uma missão decorre tanto dos resultados do nosso trabalho, como da convicção com que o desenvolvemos. Apesar de não acreditar em escolas perfeitas, fico muito satisfeita quando constato que o esforço e a dedicação permanentes a uma causa dão frutos na vida dos nossos alunos, muito além da sua passagem por esta Escola. Por isso, àqueles que agora nos deixam, gostaria de dizer, em primeiro lugar, que esta casa terá sempre as portas abertas a todos quantos por aqui passaram, pois fazem parte da grande família do Moderno. E desejar que, nas suas vidas futuras e naquilo que realizarem - no plano académico e profissional e, sobretudo, pessoal – esteja sempre presente uma ética do trabalho e do rigor, orientada pelos valores da cidadania e da responsabilidade solidária. Numa altura em que por todo o mundo se cita o Presidente Obama como um exemplo de esperança e determinação, deixo também essa mensagem aos meus alunos – de quem já tenho saudades – “sim, vocês conseguem concretizar os vossos sonhos”.
Tivemos este ano interessantes comunicações, das mais ilustres personalidades, nas Semanas Temáticas. Como vê, em termos gerais, estas actividades?
Pensámos nas Semanas Temáticas, já há alguns anos, como forma de motivar os nossos alunos para o prazer do conhecimento, da cultura e da reflexão. O contacto com personalidades proeminentes, das mais diversas áreas da vida científica, literária e artística e a possibilidade de dialogar com elas abrem horizontes aos nossos alunos e estimulam a sua curiosidade. O entusiasmo com que se preparam e participam nestes colóquios é um testemunho inequívoco de que esta é uma aposta ganha, no imediato e a longo prazo.
Quando, no momento actual do país e do Mundo, o termo “crise” vai entrando pelas nossas casas adentro, parece-lhe que a cultura é a resposta adequada no combate à crise?
A meu ver, a cultura é sempre uma resposta adequada a todas as crises. Naturalmente, quando estão em causa questões de sobrevivência e necessidades básicas elementares, a sua resolução é prioritária. Mas, mesmo as tomadas de decisão no combate à crise económica e social, são mais eficazes quando os dirigentes políticos têm uma visão humanista e integrada da cultura e da história. Na minha perspectiva, a cultura e o conhecimento são os melhores antídotos contra a barbárie e qualquer tendência anti-democrática que surgem frequentemente associados a períodos de crise e assentam normalmente na ignorância.
Na verdade, a crise não é só financeira. Se falamos de crise, não podemos escapar à questão da crise de valores. Mas pode especificar, no seu entender, o que significa a expressão “crise de valores”? É que corremos o risco de, de tanto a repetir, ser mais um lugar comum…A escola ocupa, neste contexto, que papel?
A crise de valores não é um lugar comum, existe. Verificamos todos no nosso quotidiano a falta de rigor, a falta de seriedade, a pouca urbanidade, a falta de civismo, o gosto pela cultura efémera e descartável, em que tudo é possível e de satisfação imediata. Estamos a passar aos nossos jovens a ideia de que tudo é fácil, deve ser lúdico e de gratificação rápida. O rigor, o esforço e o trabalho não são interiorizados como verdadeiros valores. Alguns jovens constroem, assim, uma identidade superficial e sem densidade intelectual e afectiva. Como os jovens são os futuros dirigentes e cidadãos activos da nossa sociedade, cada vez mais global, a Escola tem um papel determinante no combate a esta tendência. Por isso, podemos e devemos ousar assumir esse papel, como fazemos no Colégio Moderno com estas iniciativas, trazendo a cultura e a ciência - o saber - à Escola.
Mas não lhe parece que, a par da escola, pertence aos pais a missão de educar, de facto?
Aos Pais e à Escola corresponde a missão de educar, embora com competências e papéis diferentes, mas complementares. Por isso, refiro sempre a ideia de uma “linguagem partilhada”, entre a família e a escola, no sentido de uma verdadeira convergência de objectivos. A não desautorização mútua é fundamental.
O Colégio Moderno tem formado gerações de alunos que, mais tarde, se destacaram como figuras da nossa cultura. Esses exemplos parecem-lhe poder funcionar, para os actuais alunos, como factores de motivação ou, pelo contrário, não são senão parte de uma história passada? Muitas vezes há a sensação de que desconhecemos quem por aqui passou, que diz pouco aos alunos saber que aqui estudaram José Sasportes, David Mourão-Ferreira, ou ensinaram Álvaro Salema, Urbano Tavares Rodrigues ou João Benard da Costa…
O Colégio Moderno é uma escola com memória e que cultiva essa memória. Todos os que por aqui passaram, com maior ou menor notoriedade, deixaram a sua marca. Mas aquilo que é comum a todos eles é o espírito humanista e solidário. Falar de David Mourão Ferreira, Gastão Cruz, João Bénard da Costa, Odete Ferreira, Mário Soares e Álvaro Cunhal - entre tantos outros - constitui, para nós, um orgulho e um dever, por aquilo que representam na História e na Cultura do país e pelo que as suas vidas e percursos podem servir como exemplo e inspiração para os nossos alunos.
Enquanto Directora do Colégio Moderno, que projectos para o futuro estão ainda por realizar?
Muitos. O nosso Projecto Educativo é um processo em permanente construção, fonte de diálogo, aberto à mudança. Isto só é possível por assentar em princípios e valores de que não abdicamos, e que lhe conferem uma identidade única. Temos que manter a capacidade de nos adaptarmos, através da inovação e da criatividade, às profundas alterações da sociedade. Continuaremos a apostar na vertente cultural, nas novas tecnologias, no reforço da Língua Portuguesa e da Matemática como pilares da aprendizagem. No desenvolvimento de projectos solidários e de voluntariado e sobretudo no envolvimento dos nossos alunos e suas famílias na vida da Escola. Para isso conto com toda a equipa educativa do Colégio.
Para os alunos que este ano se despedem da nossa escola, que seguirão a vida universitária, que mensagem gostaria de lhe deixar, tendo em conta o percurso que todos aqui fizeram e a marca que, em todos, o Colégio Moderno gravou?
Considero que o sentimento de ter cumprido uma missão decorre tanto dos resultados do nosso trabalho, como da convicção com que o desenvolvemos. Apesar de não acreditar em escolas perfeitas, fico muito satisfeita quando constato que o esforço e a dedicação permanentes a uma causa dão frutos na vida dos nossos alunos, muito além da sua passagem por esta Escola. Por isso, àqueles que agora nos deixam, gostaria de dizer, em primeiro lugar, que esta casa terá sempre as portas abertas a todos quantos por aqui passaram, pois fazem parte da grande família do Moderno. E desejar que, nas suas vidas futuras e naquilo que realizarem - no plano académico e profissional e, sobretudo, pessoal – esteja sempre presente uma ética do trabalho e do rigor, orientada pelos valores da cidadania e da responsabilidade solidária. Numa altura em que por todo o mundo se cita o Presidente Obama como um exemplo de esperança e determinação, deixo também essa mensagem aos meus alunos – de quem já tenho saudades – “sim, vocês conseguem concretizar os vossos sonhos”.
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