quarta-feira, 29 de julho de 2009

Breve crónica porque mais do que isto eu não tenho

por Eunice Martins, 10ºIV


“Nesse céu onde o olhar
É uma asa que não voa”
Alexandre O'Neill


Portugal e eu temos tanto em comum... Sou a pequenez das cidades remotas, escondidas no interior do país. Portugal é uma pequena Igreja, um jardim bonitinho com bancos rudes, de pedra. Portugal é uma calçada velha e os rostos agastados das pessoas desprovidas de esperança. É tudo tão... amostra. As pessoas são amorosas: quem as olha é percorrido sempre por um sentimento muito fechado e fatal, um “tem que ser assim” que toma forma num sorriso de orgulho e tristeza vaga ao mesmo tempo, por não haver outra maneira, por não haver.
É como ter um certo prazer na dor, porque é peculiar e engraçado. Mas, no fundo, sofrer é não querer isso. Porque assim é bonito, mas não passa disto. Não passa de uma “pequena dor à portuguesa / tão mansa, quase vegetal” que todos carregamos. A dor que está lá atrás: a dor da nossa História. A queda é o que há de mais fácil. E depois dela, destroços, a míngua de tudo, a apatia generalizada. É isto que é Portugal. É isto, não é mais, e nisto não há nem bem, nem mal. Há existência.
Portugal, Portugal... O único escape para esta velha dor é a morte. A morte completa da alma portuguesa, a morte deveras. Morrer para acabar com a dúvida que não cessa, a dúvida que encerra aquele verso tão batido: “É a Hora!”
A dúvida que nos põe a pensar se é a Hora de erguer e fazer ouvir Portugal, ou se é a hora de acordar e ver que não há nada. Sim, a dúvida que nos persegue (que nos percorre) e hoje já quase não é dúvida, desde 1580, por Cristo! Portugal precisa de “morrer de coração aberto” e libertar, enfim, o nome no seu sangue. Portugal precisa de nascer uma outra vez e “procurar noutros olhos a medida”.
Tudo o que foi aqui dito se movimenta num plano demasiado etéreo, de facto. Talvez eu devesse falar em reformas para o ensino, em vez da morte do meu país. Mas eu nasci para ser assim, e é preciso terminar esta crónica da única maneira possível para o seu encerramento: Eu preciso de vos dizer, caríssimos, que ela exprime a minha estranha condição e que me espelhe. Porque eu sou irremediavelmente igual a Portugal.






2 comentários:

  1. Eis que a poesia se ergue e a condição do português se ilumina nesta crónica sublime. O medo de existir, como trata o livro de mesmo nome de José Gil, existe e é em si uma barreira brutal à mudança das mentalidades da "pequenez" e do "tem que ser assim". SIM Portugal "precisa de nascer outra vez". SIM, Portugal vai mudar, se o nosso amor à pátria nos incitar à incisiva crítica dos costumes, ao desenvolvimento consciente e pensado e à mudança. E SIM, temos que ter esperança, podemos mudar o mundo, o nosso lusitano mundo.
    Como disse Barack Obama: "there has never been anything false about hope"

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