quarta-feira, 29 de julho de 2009

O orgulho de não ser um desses portugueses

por Vasco Horta, 11ºII



Portugal é, sem dúvida, um país de velhas tradições. Em Portugal não se classificam, nem se julgam tradições. Mesmo que seja a mais absurda, a justificação para se manter é sempre: “ah, é a tradição”. Pois bem, este artigo é precisamente sobre tradições e costumes e outros hábitos degradantes e vis, que se cometem, preservam e canonizam em Portugal.

Comecemos pelo grande e viril espectáculo: A Tourada. Já dizia Afonso da Maia, na obra-prima de Eça, que o verdadeiro patriotismo era fazer uma tourada. O facto de o bom português (ou o mau) gostar de ir à tourada, ver o touro ser espicaçado dezenas de vezes por um indivíduo em cima dum cavalo, é preocupante. Antigamente, quando a tourada passava na televisão, as pessoas viam tudo a preto e branco, de modo que, não imaginavam que o touro jorrasse sangue. Mas quando a televisão passou a ser a cores: ah! O touro deita sangue, que horror! Bom, quando a televisão era a preto e branco, os touros também eram animais, também deitavam sangue… Ora, isto mostra que o povo adepto das touradas precisa de ver as coisas à sua frente para se escandalizar. Escandalizados deviam estar todos os portugueses com o que aqui se faz. Mas voltando ao assunto, o Zé-povinho gosta de “ir ver os toiros”, para se divertir e aplaudir a coragem e a bravura do toureiro (imensa bravura, o cavalo é que apanha com o touro, mas sim, é de uma valentia hercúlea). A primeira questão que se põe é: como é que alguém se diverte com o sofrimento do outro? Bom, talvez porque…é a tradição. De facto, as pessoas fecham os olhos ao que não lhes interessa. Todos sabem que o touro ao ser espetado sente uma coisa (aparentemente sem importância) a que se chama dor. Dor. Será que sabem o que é sentir uma vara de ferro, um daqueles espetos do churrasco, a entrar nas costas e a ficar lá, seguidamente de mais dois ou três. Será que sabem o que é ter de fugir, já em pânico, do próximo espeto, suportando os outros três atrás, enterrando-se no músculo contraído. É aborrecido não é? Ah, mas não interessa: é a tradição.

Depois da festa brava, porque não ir comer uns caracóis. Entra-se ali na tasca e é só pedir. São cinco euros o prato, é barato e sabe bem. – Esta é, porventura, a tradição com mais unidade em Portugal. De norte a sul, todos gostam de caracóis, de estar ali na esplanada a desfrutar do Sol, mas cuidado com as queimaduras. Com efeito, é de queimaduras que vou falar: o caracol teve o azar de respirar como nós, então chega, dentro de sacos, às cozinhas pelo país fora, de tal forma, que quando é colocado no tacho com água, ainda fria, está vivo. Porém, não se afoga, pois vem à superfície para respirar. Deste modo, para os matarem, os cozinheiros vão aquecendo a água progressivamente, até que.ferve. Entretanto o pobre caracol vai sendo cozido, enquanto os portugueses (e estrangeiros que também gostam) esperam famintos pelo petisco. Também pode optar pela lagosta suada (o nome diz tudo, um pouco cínico talvez). Enfim, estas são algumas das muitas tradições "louváveis", que se praticam na Ocidental Praia Lusitana.

Este artigo, em tom de denúncia ou de desabafo talvez, não deve ser visto como uma ofensa às tradições portuguesas e a Portugal. Pelo contrário, são muitas as tradições portuguesas que devem ser mantidas e que tornam Portugal um país singular. No entanto, o caminho para tornar o nosso país um país melhor é, precisamente, acabar com certos costumes que de humanos nada têm. Cada um de nós deve reflectir se é eticamente correcto promover ou assistir impavidamente a tradições cruéis, como as que acabamos de ver, que tornam os homens não mais do que bestas sadias.



Não deixes que a tua pátria te envergonhe, vai a www.blogdaanimal.blogspot.com, www.peta.org, www.youtube.com/watch?v=DHNozm9w0VU e combate estas crueldades. Pelo teu país, pelos teus valores, pela tua condição de ser humano, LUTA.

Participa nas manifestações contra a tourada promovidas pela Associação Animal, vê em www.blogdaanimal.blogspot.com






7 comentários:

  1. Numa palavra "excelente".
    Apesar de os touros serem criados para esse propósito,é de facto preocupante que o povo se divirta com sofrimento.Algo que não é de estranhar pois tal como foi dito "é a tradição". Vejamos por exemplo o grande Império Romano que criou as lutas de escravos (gladiadores) para entreter o público para além de jogos violentos com o mesmo intuito.

    De facto o que foi dito sobre os touros é uma verdade incontornável e temos de ser nós a tentar mudar essa tradição.Proponho aqui ao autor que nas futuras edições divulgue iniciativas/movimentos contra estes actos cruéis.A proposta da PETA é muito boa para começar.

    Aparte

    Como aluno de ciências permite-me discordar em relação ao caracol: como animal poiliqotérmico , a sua temperatura varia conforme a temperatura ambiente logo enquanto está a ser cozido a sua temperatura aumenta sem que este sinta nada. Se fosse posto logo em água a ferver seria bastante pior. Já o ser humano é um animal homeotérmico e como tal desenvolve mecanismos para manter a sua temperatura +/- constantes.

    Precisamos de mais artigos deste tipo. Parabéns

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  2. Como todos sabemos, nós, humanos somos animais racionais que, por termos um cérebro bastante mais desenvolvido que qualquer animal, podemos estabelecer raciocínios e relações cognitivas entre objectos.
    Mas não é so a parte racional que o Homem desenvolveu formidavelemente. Também a parte emocional é bastante mais desenvolvida do que a dos animais, sendo como prova disso o sentimento de amor entre duas pessoas que se amam ou o de solidariedade que uma pessoa tem quando vê um pobre ou um animal maltratado, pedindo ajuda.
    Esta humanidade do ser humano não deveria passar despercebida perante qualquer coisa, sendo ela tradição ou não de um país. Ela devia fazer com que nós rejeitassemos de qualquer maneira esta tão triste tradição da tourada.
    O mais grave disto tudo é que existem pessoas que, conscientes do mal que se faz ao touro, apoiem e aplaudam com energia, o toureiro espetando as farpas.
    Usem a vossa razão como seres racionais, usem-na como eu a usei e verão que tudo o que se faz ao touro é desumano, não digno do Homem como a própria palavra indica.
    Quanto aos caracóis, n tenho nada a acrescentar. Penso que o meu colega ja falou de tudo o que havia a dizer em termos científicos.

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  3. Deixem-me, desde já, aplaudir a frontalidade com que este artigo se assume como um desabafo/denúncia "esmiuçando" implacavelmente um assunto que tem talvez, tanto de urgente como de polémico no questionamento do que é afinal a identidade portuguesa no séc. XXI: as tradições.
    E se o que é tradição é tradição, que seja então eticamente correcta .Cabe-nos também a nós jovens cidadãos, reflectir sobre o estado da nossa pátria e considerar o que deve e o que não deve ser uma tradição nossa .Ora, um espectáculo que contempla sofrimento físico e psicológico exercido sobre uma criatura, visando o lucro e a mera diversão é, evidentemente uma aberração numa sociedade que se diz livre e justa .A verdade está à vista e tem que haver mudança!
    Parabéns ao autor pelo artigo excelente e um agradecimento aos comentadores acima por deixarem comentários pertinentes que reforçam o espírito de dinâmica e interacção que este J.M. pretende ter.

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  4. A identidade não deverá ser confundível com tradição no sentido em que esta se tenha tornado "in-pensável". Deveremos saber conservar o que nos faz crescer e desenvolver e, apenas isso.
    Os filhos, na construção da sua identidade, também deverão saber aproveitar dos pais os aspectos positivos, sabendo,sempre, crescer de forma crítica e pensante.
    A evolução da Sociedade só se poderá fazer desse modo.
    Quanto às touradas, valerá a pena estudar a sua existência ao longo da história das sociedades e a sua "função" no funcionamento psíquico humano. Assim, o processo de "desmontagem" das mesmas poderá ser ainda mais fundamentado e construtivo.
    Finalmente, parabéns, pela capacidade demonstrada de questionamento e de indignação!

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  5. oh vasquito vai ver se neva no deserto. é uma vergonha criticarem a tourada, quando sabem muito bem que graças a ela uma especie nao foi ainda extinta. Combatam problemas graves, como o aquecimento global, a caça às baleias e claro a marchinha dos caracois (sim de facto é muitooo importante neste mundo). Alias nem sei como te levantas todos os dias de manha a pensar nestes problemas todos.

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  6. Viva!

    Antes de mais quero agradecer aos meus colegas que deixaram os seus comentários (mesmo os que expressaram uma opinião divergente do artigo). É este tipo de discussão que se quer no blog.
    Devo também uma resposta ao meu caro/cara colega que referiu uma questão importante: os touros existem devido à tourada e sem ela seria a sua extinção. De facto, é verdade, mas será correcto, ético ou mesmo aceitável continuar uma espécie no sentido de causar um sofrimento indiscritível aos seus membros? Será legítimo criar um animal com o único propósito de ser torturado numa arena? Para mim, a resposta é não.
    Falas de aquecimento global? Espera pela próxima edição e terás a tua resposta.

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  7. Descobri esta petição para a proibição da transmição de touradas em canais públicos de televisão. Podem assinar aqui:
    http://www.petitiononline.com/touradas/petition.html

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