quarta-feira, 29 de julho de 2009

Viagem de Observação

por Mafalda Cardeira, 12ºII




Um pé de cada vez. Enfim, cá estou eu. Decido o lugar, se não possuir suposição de me fixar, então em pedestal permaneço. O automatismo conduz-me a estabelecer na secção do fundo, de predilecção contendo a janela do meu flanco sestro.Encontro-me em andamento. Todavia, previamente, cedo a entrada e lugar a diversos. Não resisto a deixar uma velha passar à minha frente («Passe por favor.»). Alguns circulam velozmente, outros imobilizados, outros ainda a fumar e outros com a paixão.Todos iguais, todos diferentes. Uns com bolsas, mochilas, casacos pretos, camisas brancas, botas, ténis, sapatos. Outros a ouvir solfa, à espera, a assobiar, a retocar a maquilhagem, a decorar, a subtilmente perscrutar, a mofar ou rir, a reflectir, a dormir, em pé ou sentados. Na sétima paragem, um pouco inane, pára ao pé de um miúdo campo de bola. Começo a sentir-me melhor, pois encontro-me a mais de metade do destino. Da sétima para a oitava, passamos por uma Infantil ou Primária (nunca cheguei a perceber o que é). Porém, observo com contentamento as crianças a retirarem-se. É perto das cinco e meia da tarde (ou talvez mais), e permaneço no pensamento dessas crianças serem, de facto, o nosso futuro. A alegria dos pais ésilenciosa. Algumas mães excessivamente apressadas com os seus anéis, malas de marca, casacos de pele, óculos enormes e mesmo assim, conseguem encaminhar as crianças até aos seus exuberantes carros onde mais tardiamente, as tais crianças, vão ser abandonadas aos cuidados de uma ama ou mesmo da empregada "lá de casa". Afinal, essas tais crianças, nem sabem o que o futuro as espera, nem eu. Os bancos azuis com pequenos símbolos pretos e verdes são bastante confortáveis mas para meu mal: inclino-me para trás e enterro-me neles (concedendo assim uma posição desconfortável). As Senhoras que me acompanham nesta jornada, têm uma aparência acre e fúnebre como se, de facto, tratassem de empregadas domésticas. Fios de ouro ao pescoço, brincos esféricos com uma espécie de auréola roxa (ou assim). Camisolas que não se enquadram sequer com os seus cabelos grisalhos nem com as suas velhas marcas. Numa cor avermelhada escura, vestem calças que acabam um pouco acima do nível dos tornozelos para se verem as meias da “íntima” que usam. Os seus relógios pretos, castanhos e cinzentos, em tudo se parecem com a inutilidade que (Elas) dão ao tempo. Gente moça… Não há insuficiência. Desde os mais pequenos àqueles que “aparentam” os seus 25 (esquecidos) anos. Mas ainda usam os seus aparatos juvenis.Há idades para tudo… O silêncio indica-me que estou cada vez mais próxima da saída. Eu ambicionava (ou mesmo, desejava) continuar para observar aquelas inumanas estátuas durante mais algum tempo mas a maneira com que certos olhares vermelhos e amarelos encontram os meus olhos, faz-me morrer para sair dali! Um pé de cada vez. Cheguei a casa.

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